-Romeu! - Gritei ao deixar que o rio tirasse o garoto dos meus braços. Eu já estava quase morta quando chegamos na beira do rio e, agora, isso.
Corri e nadei atrás dele naquilo que parecia ser lama e sangue. o menino se debatia enquanto gritava meu nome. Sabia que ele, assim como eu, sentia que as trevas estavam nos perseguindo novamente. Com as últimas forças que tinha, consegui alcançá-lo e o levei até a outra margem.
Me ajoelhei na terra molhada e chorei; eles vão pegá-lo novamente! Eu não aguento mais isso! Então ouvi um som incomum nesse mundo-o despertador estava me tirando daquele pesadelo.
Finalmente voltei; estava em minha cama novamente. contudo, algo estava errado, os calafrios vinham como um aviso. Levantei e olhei ao redor-tudo normal. Tomei café e fui para a sala ler algo. A campainha tocou e senti meu corpo estremecer completamente, pois eu sabia quem estava lá fora e que era uma péssima notícia.
Abri a porta lentamente e meu medo estava lá, em carne e osso; me olhando inocentemente e nada surpreso. Romeu.
-Oi! - Ele me abraçou e logo entrou em casa.
-Q...quem é você? - Tentei fingir que aquilo não estava acontecendo.
-Romeu, oras. - O garoto me olhou intrigado. -Você me deu esse nome, não lembra?
"Isso não está acontecendo. Isso não está acontecendo." Eu tentava me convencer de que nada daquilo era real.
-Claro que está acontecendo! Eu estou aqui! - Ele gritou com raiva e tristeza. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. - Tia, você é a única que pode me ajudar.
Nesse momento, me joguei na cadeira mais próxima e o turbilhão de perguntas começou: Quem é esse garoto? O que ele quer? O que o está perseguindo? A culpa daquela piada tosca que os monstros fazem quando o levam é minha?
-Eu vim aqui pra...você sabe...corremos perigo.
-Perigo... - Repeti automaticamente.
-Sim. - Ele chegou bem perto de mim para sussurrar - As trevas estão atrás de nós dois.
-Não. Isso é loucura! Eu devo estar sonhando ainda...
-Não eram sonhos. Estávamos em outras dimensões. - Ele me olhava sério quando as luzes começaram a piscar. - Vamos! Estamos correndo perigo.
Romeu me puxou pela mão até o quarto e jogou minha mochila na cama.
-Vamos! Não temos muito tempo!
Instantaneamente joguei minha coisas mais básicas lá dentro e, logo depois, estávamos da garagem.
-Espera, e a minha família?
-Eles vão ficar bem. Temos que ir logo!
Entramos no carro, eu o liguei e saímos sem destino. "Depois eu mando uma mensagem pra eles." eu pensava "E agora? Onde vamos?"
-Uma lanchonete. estou com fome.
-Tá... - Só então me toquei - Você consegue ler meus pensamentos?!
-Sim.- Ele olhava a rua - Foi como você me conheceu e eu te treinei.
-Então, aqueles pesadelos?
-Sim.
-Tá... - Aquilo ainda parecia loucura demais pra mim.
-Você não está louca...eu estou aqui.
-Dá pra parar?!
-Desculpa, tia...
-E essa mania de me chamar de tia? - Disse, brincando.
-Mas você é mesmo minha tia...
-Ok. - Respirei fundo -Quando chegarmos à lanchonete você vai me contar tudo o que é isso.
-Não precisa. - Romeu me olhou nos olhos e, em um milésimo de segundos, tudo o que aquela criança viveu-de sorrisos a medos- estava em minha cabeça. Fiquei em choque por algum tempo e só depois pude entender o porquê de estarmos ali.
-Ok, Romeu. Vamos nessa!
O blog de uma pessoa que tenta se entender e entender a singularidade dos outros. Com uma postagem por semana tento passar aos meus leitores o que se passa em meus devaneios.
domingo, 18 de dezembro de 2016
Br-03 e o resto da população mundial - O amanhecer da nova era
Senti minhas pernas bambearem; depois apaguei.
...
Acordei em uma maçã no lugar menos higiênico que já tive o desprazer de estar. Percebi que estava com cordas em minhas mãos e pés; além de um balão de oxigênio ligado às minhas narinas. Apesar do fato de eu estar em pânico, não tinha motivo para me agitar; então esperei alguém aparecer.
-Oi, você acordou!- Uma menininha entrou na sala. Ela pulava ao meu redor com uma boneca de plástico nas mãos - Vou chamar o pessoal.
Ela saiu e, dali a pouco, chegaram alguns adultos naquela sala.
-Levante. - Um cara me disse e começou a tirar as cordas dos meus pulsos. -Já passou muito tempo deitado.
Me sentei na cama e respirei fundo; tentei não fazer movimentos bruscos ou revelar o medo que sentia. Tinha tantas perguntas: Como vim parar aqui? Qual o motivo? Onde está minha família?
-Se acalme. Sei que pode parecer estranho acordar no meio de gente que você nem conhece...
-Eu quero uma explicação! - O autocontrole que eu tinha não conseguia mais suprimir meu medo. Os adultos se entreolharam.
-É melhor você se alimentar primeiro...
-Oi, você acordou!- Uma menininha entrou na sala. Ela pulava ao meu redor com uma boneca de plástico nas mãos - Vou chamar o pessoal.
Ela saiu e, dali a pouco, chegaram alguns adultos naquela sala.
-Levante. - Um cara me disse e começou a tirar as cordas dos meus pulsos. -Já passou muito tempo deitado.
Me sentei na cama e respirei fundo; tentei não fazer movimentos bruscos ou revelar o medo que sentia. Tinha tantas perguntas: Como vim parar aqui? Qual o motivo? Onde está minha família?
-Se acalme. Sei que pode parecer estranho acordar no meio de gente que você nem conhece...
-Eu quero uma explicação! - O autocontrole que eu tinha não conseguia mais suprimir meu medo. Os adultos se entreolharam.
-É melhor você se alimentar primeiro...
...
Desde a ECO-92, a Agenda-21 foi estabelecida no mundo todo; contudo, a chance de que ela não fosse seguida por muitos países era grande. Então, um acordo secreto foi criado entre países emergentes e um grupo foi formado, o BRICS.
O acordo consistia em criar colônias de sobrevivência para o caso de não conseguirem parar o uso indiscriminado dos recursos naturais da Terra.
O segundo boom econômico veio com a criação e o uso das nanotecnologias; isso tornou a produção mais rápida e dificultou o acordo entre os países, principalmente por parte dos desenvolvidos.
Enquanto a Agenda-21 parecia algo cada vez mais distante, os BRICS avançavam nas transações de tecnologias e serviços; além de investirem nas colônias de sobrevivência. Apesar de todo o esforço, não conseguiram fazer com que esses locais fossem autossuficientes; elas só durariam o tempo necessário para que as plantas cultivadas pudessem repor a porcentagem normal de oxigênio no mundo.
Então os recursos foram baixando até que chegaram a um estado crítico e as pessoas começaram a adoecer; isso durou meses e manifestações aconteciam em todo o mundo.
A população das colônias tinha sido escolhida e já operava quando o nível de oxigênio ficou tão baixo que os seres vivos dependentes dele simplesmente desmaiaram e morreram. Assim, as portas foram fechadas; livrando somente os escolhidos sobreviverem.
O acordo consistia em criar colônias de sobrevivência para o caso de não conseguirem parar o uso indiscriminado dos recursos naturais da Terra.
O segundo boom econômico veio com a criação e o uso das nanotecnologias; isso tornou a produção mais rápida e dificultou o acordo entre os países, principalmente por parte dos desenvolvidos.
Enquanto a Agenda-21 parecia algo cada vez mais distante, os BRICS avançavam nas transações de tecnologias e serviços; além de investirem nas colônias de sobrevivência. Apesar de todo o esforço, não conseguiram fazer com que esses locais fossem autossuficientes; elas só durariam o tempo necessário para que as plantas cultivadas pudessem repor a porcentagem normal de oxigênio no mundo.
Então os recursos foram baixando até que chegaram a um estado crítico e as pessoas começaram a adoecer; isso durou meses e manifestações aconteciam em todo o mundo.
A população das colônias tinha sido escolhida e já operava quando o nível de oxigênio ficou tão baixo que os seres vivos dependentes dele simplesmente desmaiaram e morreram. Assim, as portas foram fechadas; livrando somente os escolhidos sobreviverem.
...
Vomitei tudo o que comi no jantar. Era inacreditável.
-E eu?! Qual o motivo de estar aqui?
-Você estava do lado de fora da cápsula e te vimos desmaiar; mas não podia nos ver. Te trouxemos para dentro e cuidamos dos problemas causados pela falta de oxigênio. - Um soldado narrava como se fosse uma explicação para seu superior.
-E minha família?! Meus amigos?!
-Talvez estejam todos mortos. - Ele disse me olhando com pena. A comida revirava em meu estômago e não deixou que eu respondesse a ele saindo como uma cachoeira.
-Levem ele ao centro médico. - O soldado ordenou. Então senti uma picada e apaguei novamente.
-E eu?! Qual o motivo de estar aqui?
-Você estava do lado de fora da cápsula e te vimos desmaiar; mas não podia nos ver. Te trouxemos para dentro e cuidamos dos problemas causados pela falta de oxigênio. - Um soldado narrava como se fosse uma explicação para seu superior.
-E minha família?! Meus amigos?!
-Talvez estejam todos mortos. - Ele disse me olhando com pena. A comida revirava em meu estômago e não deixou que eu respondesse a ele saindo como uma cachoeira.
-Levem ele ao centro médico. - O soldado ordenou. Então senti uma picada e apaguei novamente.
1001 noites de pesadelo - Anormal
Corríamos escada acima; não podia ver o início nem o final desta, mas sabia que eles estavam perto.
-Romeu!- O garoto já não conseguia correr, então o levei no colo.
Finalmente chegamos ao último andar, no qual todos estavam apreensivos.
-Vá! -Empurrei Romeu para dentro do auditório, mas ele se agarrou a mim. -Não tenha medo. Eu irei te proteger...
Ele me olhou confiante e marchou para dentro da sala.
Fiquei bem na frente das portas de vidro; tinha certeza que Romeu podia me ver tanto quanto todas as outras 20 crianças lá dentro. Eu estava pensando em coisas boas que fiz com aquele garoto - nossas idas ao bosque, à praça... quando ouvimos o estrondo. A pressão exercida contra os corpos fora do auditório fez órgãos e ossos ficarem esmigalhados, assim como as portas de vidro.
Pude sentir o sangue que tomava conta de meus pulmões, mas a visão turva me dava a certeza de que desmaiaria antes de morrer sufocada. Porém, eu lutava contra isso. Romeu precisava de mim e eu não conseguia nem respirar. Vi quando alguém saiu puxando o garoto pela escada e o levou para algum lugar; então, apaguei.
...
Acordei na minha cada. Estava suada, com dores e me sentia a pessoa mais impotente do mundo.
-Romeu!- O garoto já não conseguia correr, então o levei no colo.
Finalmente chegamos ao último andar, no qual todos estavam apreensivos.
-Vá! -Empurrei Romeu para dentro do auditório, mas ele se agarrou a mim. -Não tenha medo. Eu irei te proteger...
Ele me olhou confiante e marchou para dentro da sala.
Fiquei bem na frente das portas de vidro; tinha certeza que Romeu podia me ver tanto quanto todas as outras 20 crianças lá dentro. Eu estava pensando em coisas boas que fiz com aquele garoto - nossas idas ao bosque, à praça... quando ouvimos o estrondo. A pressão exercida contra os corpos fora do auditório fez órgãos e ossos ficarem esmigalhados, assim como as portas de vidro.
Pude sentir o sangue que tomava conta de meus pulmões, mas a visão turva me dava a certeza de que desmaiaria antes de morrer sufocada. Porém, eu lutava contra isso. Romeu precisava de mim e eu não conseguia nem respirar. Vi quando alguém saiu puxando o garoto pela escada e o levou para algum lugar; então, apaguei.
...
Acordei na minha cada. Estava suada, com dores e me sentia a pessoa mais impotente do mundo.
1001 noites de pesadelo - Terceiro pesadelo
Eu o segurei pelo pescoço e o puxei para dentro do elevador. Aquilo começara na festa dele de aniversário. O mágico simplesmente enlouqueceu no meio do show, as luzes apagaram e, ao voltarem, todos tinham sumido. Corri para o elevador com Romeu e ví quando o mágico vinha chegando.
Caímos no chão do elevador e a porta deste se fechou quando o mágico estava a alguns metros; sua roupa era suja e seu rosto mostrava uma ira sobrenatural. Segurei aquela criança em meus braços enquanto o elevador se movimentava. De repente parou e a porta abriu, estávamos no estacionamento do prédio. Corri com Romeu nos braços o mais rápido e o mais longe que pude; olhei em volta e percebi que não havia saída alguma. As luzes piscaram e pude ver aquelas coisas vindo lentamente dos cantos do estacionamento; só então percebi que o mago era um necromante. Corri de volta para o elevador, mas não conseguia levar Romeu no colo novamente. Então deixei que ele corresse na minha frente por um tempo, depois o carreguei; sabia que com seus pequenos passos não seria capaz de escapar daqueles monstros.
Sentamos no chão do elevador e deixamos este subir até o último andar; estávamos cansados e assustados. Olhei para o garoto e tirei o cabelo de seu rosto, ele estava vermelho e ofegante; sorri pra ele e Romeu devolveu o sorriso, tão puro e lindo que eu simplesmente não entendia o porquê daquilo estar acontecendo.
A porta do elevador abriu e eu pude ver o sorriso demoníaco do necromante. Procurei o braço de Romeu em vão e senti mãos fortes e geladas me segurarem. Ao me virar, pude ver o garoto desacordado ao meu lado; o mago o pegou, o segurou no colo e se virou para ir embora.
-NÃO!!- Gritei com todas as minhas forças.
-Eu tenho que levar o garoto.- Ele se virou para mim com aquele mesmo sorriso -Afinal, eu sou a Julieta e ele é o meu Romeu.
Acordei ofegante, me levantei rápido e liguei o abajur perto da minha cama. Aquele era o terceiro pesadelo em duas semanas; situações diferentes, mas o mesmo garoto -Romeu, alguém que eu nunca conheci. Como já estava quase na hora de ir para a escola, resolvi continuar acordada e escutar o barulho da chuva que caía.
Caímos no chão do elevador e a porta deste se fechou quando o mágico estava a alguns metros; sua roupa era suja e seu rosto mostrava uma ira sobrenatural. Segurei aquela criança em meus braços enquanto o elevador se movimentava. De repente parou e a porta abriu, estávamos no estacionamento do prédio. Corri com Romeu nos braços o mais rápido e o mais longe que pude; olhei em volta e percebi que não havia saída alguma. As luzes piscaram e pude ver aquelas coisas vindo lentamente dos cantos do estacionamento; só então percebi que o mago era um necromante. Corri de volta para o elevador, mas não conseguia levar Romeu no colo novamente. Então deixei que ele corresse na minha frente por um tempo, depois o carreguei; sabia que com seus pequenos passos não seria capaz de escapar daqueles monstros.
Sentamos no chão do elevador e deixamos este subir até o último andar; estávamos cansados e assustados. Olhei para o garoto e tirei o cabelo de seu rosto, ele estava vermelho e ofegante; sorri pra ele e Romeu devolveu o sorriso, tão puro e lindo que eu simplesmente não entendia o porquê daquilo estar acontecendo.
A porta do elevador abriu e eu pude ver o sorriso demoníaco do necromante. Procurei o braço de Romeu em vão e senti mãos fortes e geladas me segurarem. Ao me virar, pude ver o garoto desacordado ao meu lado; o mago o pegou, o segurou no colo e se virou para ir embora.
-NÃO!!- Gritei com todas as minhas forças.
-Eu tenho que levar o garoto.- Ele se virou para mim com aquele mesmo sorriso -Afinal, eu sou a Julieta e ele é o meu Romeu.
Acordei ofegante, me levantei rápido e liguei o abajur perto da minha cama. Aquele era o terceiro pesadelo em duas semanas; situações diferentes, mas o mesmo garoto -Romeu, alguém que eu nunca conheci. Como já estava quase na hora de ir para a escola, resolvi continuar acordada e escutar o barulho da chuva que caía.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Pequeno...
Pareces ser de porcelana
Posso te quebrar só de olhar?
Pequeno...
Participar do teu dia era algo bom
Pena que agora pareces tão longe...
Pequeno...
Passa por aqui,
Para a correria,
Pensa em algo que podemos fazer juntos...
Pequeno...
Paradoxal nossa conexão, se posso falar assim
Parte risadas,
Parte sem falas.
Tec-Tec -Cap 5
Durante várias noites tive
pesadelos. Era basicamente a mesma coisa: uma moça jogada no chão e, quando eu
me abaixava para ver quem era, ela me segurava pelos ombros e sussurrada algo;
depois eu acordava gritando e ela estava ao lado da minha cama com uma roupa
preta ensanguentada; então eu piscava e ela sumia. Era horrível.
Em pouco tempo me senti
desprotegida. Não conseguia mais dormir ou ir aos lugares sozinha. RI Ta sempre
estava preocupada comigo; percebeu meu estado de ansiedade e nervosismo. Ela
procurava sempre estar junto a mim.
Certo dia ela não pode ir
comigo até o metrô, então ligou para Erick. Este me esperaria na estação.
-Vá logo. Ele está te
esperando. - Ela sorriu para mim.
-Tudo bem. - Eu disse,
retribuindo o sorriso. Fui andando rapidamente até a estação e, lá, encontrei
Erick com algumas sacolas.
-Oi, tudo bem?
-Tudo sim. E contigo? - Eu ri
- E essas sacolas?
-Ah, são algumas coisas que eu
comprei. -Ele se sentou em um banco próximo. -Está com fome? Eu trouxe tortas.
-Tem de morango? - Já era
tarde e fazia algum tempo desde minha última refeição
-Tem sim. - Ele tirou uma
pequena sacola do meio das outras. Me senti meio envergonhada quando Erick me
entregou a torta, que direito eu teria de comer aquilo?! -Coma, vai se sentir
melhor.
-Ah, obrigada. - Me sentei ao
lado dele e, ao pegar o garfo, senti aquele vento frio novamente.
Do outro lado dos trilhos,
havia aquele espelho enorme e, como antes, via aquela sombra encostando em meu
ombro. Ao olhar um pouco além de meu reflexo, percebi que Erick também via
aquilo, boquiaberto, congelado, morrendo de medo. Tive a impressão de que o
rapaz temia a sombra bem mais que eu.
Estávamos novamente na estação
de trem; antiga e empoeirada, ela se levantava ao nosso redor. Nos trilhos,
algo se movia; uma massa disforme fazia barulhos de ossos batendo no chão e se
aproximando da beirada, logicamente, de mim e Erick. Não conseguia me mover,
mesmo que o rapaz puxasse e empurrasse meu corpo gritando meu nome.
-Vamos! Vamos! - Ele me dizia.
-Vem logo! -Erick me segurou pelo braço e saímos correndo. Corremos até os pés
cansarem e as pernas do eram, mas a estação parecia sem fim; e o barulho dos
ossos no chão continuava a poucos metros.
Sem aguentar mais, caí. Me
Machuqueiras sem poder mais andar.
-Erick, me ajuda! - Mas senti
as mãos meladas da massa disforme que nos perseguia agarrar meu calcanhar e ví
os medos nos olhos do rapaz. Ele saiu correndo, me deixando sozinha com aquela
criatura.
Virei para olhar o que
agarrava meu pé e...era uma moça toda de branco, bem maquiada e muito bonita.
Ela chegou cada vez mais perto e, por fim, me abraçou. Eu pisquei por um
segundo e, ao abrir os olhos, me encontrei naquele banheiro imundo em que
acordei; pude ver alguém carregando meu corpo para dentro do box. Levei um
choque ao perceber que essa pessoa era Erick. Dali a pouco, entraram mais
alguns rapazes, eu conhecia todos. Que raiva! O ódio que subiu em mim me fez
soltar um grito estridente. Pisquei novamente e voltei para a estação de trem e
a moça doce que me abraçava se transformou: sua pele era cinzenta, seus olhos
tinham o vermelho do sangue; este também estava nas vestes negras e sujas em
seu corpo, com ossos quebrados.
Ela sorriu de forma
maquiavélica para mim, como quando se seduz alguém, e olho para frente.
-Meu Deus! -Erick gritava,
totalmente histérico. A moça avançou nele e se jogou nos trilhos do trem. Um
metrô passou por cima deles e eu percebi que tinha voltado à estação normal. Um
alvoroço se formou perto dos trilhos e ao redor de mim. RI Ta estava lá; ela me
levantou e me levou até um táxi. Lhe contei tudo o que ví.
-Não; isso ninguém mais viu.
-Ela me olhava como se eu fosse desmaiar. -Vocês ficaram conversando por um
tempo; depois ele te agarrou e ia te jogar nos trilhos do trem junto com ele.
Sorte que você caiu e ele foi sozinho. -Ela respirou fundo. -A moça que você
viu foi a tec-tec.
-Quem?! -Ri Ta me contou a
história dela.
...
Poucos dias depois do que
ocorreu na estação de metrô, recebi notícias do meu país de origem. Todas
relatavam suicídios estranhos das pessoas que ví naquele dia, dentro do
banheiro.
Dentro do meu quarto, ao me
arrumar antes do trabalho, estava escovando o cabelo na frente do espelho e
pude ver a sombra da tec-tec. Ela estava de branco; veio até mim e tocou meus
cabelos. Sorri de volta. Ela virou fumaça branca e saiu pela janela, por onde
entrava a luz do sol.
Tec-Tec - Cap 4
A
festa no Centro Kokoro foi muito bonita e agradável. Algumas apresentações e
bastante comida nortearam aquela tarde. RI Ta teve de ficar em casa; ela tem
sérias complicações em certa época do mês. Voltei sozinha pelo metrô depois de
arrumar algumas coisas da festa.
A
estação não estava vazia, mas não tinha tantas pessoas quanto costumava neste
horário. Sentei em um banco para esperar e pude ver um espelho do outro lado
dos trilhos; abaixei a cabeça para amarrar os cabelos (coisa que RI Ta me
ensinou) e, ao levantar, pude ver - no espelho - alguém totalmente de preto ao
meu lado. Olhei em volta e não havia ninguém, bem as pessoas de antes.
Fiquei
paralisada ao voltar e olhar para o espelho e ver que a pessoa movia o braço
lentamente. Me perguntava o que era aquilo e o porquê de estar acontecendo
comigo. Finalmente sua mão tocou meu ombro e eu senti um estranho conforto; era
algo gelado, mas suave.
O
metrô passou e, ao perder o contato visual com o espelho, voltaram as pessoas e
o barulho normal da estação. Aquele era o que eu estava esperando; então andei
lentamente até ele. Pude ver o espelho quando partíamos, mas não havia nada
anormal lá.
Tec-Tec - Cap 3
Eu lecionava durante as tardes
e ia embora cedo; contudo, certa sexta-feira tive que sair mais tarde por estar
elaborando festa da escola sobre o aniversário da mesma. Ri Ta estava sempre me
acompanhando; ela me considerava uma criança indefesa, mesmo sem saber do meu
passado. Talvez isso tenha acontecido por causa da família que ela teve de
deixar no interior do país.
-Vamos de metrô? - Perguntei
ao sairmos da escola.
-Que tal comer algo antes de
chegar em casa?
-Ah, sim. Minha barriga está
roncando.
-Tem um restaurante aqui
perto.
-Isso é bom. Vamos lá? - Eu
estava realmente com fome. Conversamos durante o lanche. Ela disse que eu
deveria sair mais e conhecer a cidade; concordei, mas disse que seria bom se
não fosse sozinha. Ri Ta concordou em sair comigo nos fins de semana.
Quando acabamos, passamos em
um supermercado para comprar alguns ingredientes para os doces e mais comida
para a casa. Depois fomos pegar o metrô.
Na estação, senti frio e vento
fortes e incomuns. Me vi sozinha, não mais naquela, mas em uma estação de trem
antiga. Um destes trens passou rapidamente e me fez cair por estar tão perto
dos trilhos. Ainda em choque, pude ver algo se mover perto de onde o trem havia
passado. Ouvi alguém chamando meu nome, uma voz estranha. Uma mão tocou meu
ombro e me tirou daquele pesadelo.
-Oi? Você está bem? - Ri Ta me
chamava. Voltei àquela estação de metrô.
-Sim. - Eu estava ofegante -
Só me lembrei de uma coisa.
- Tudo bem. Você pode me dizer
se não estiver OK. - Eu ainda estava assustada e nervosa, mas notei o tom
informal da moça (o que denunciava sua preocupação comigo).
-Eu estou vem, juro.
-Tá, vou acreditar em você. -
Ela sorriu e entramos no transporte público.
Naquele dia não ví Erick;
talvez ele estivesse trabalhando. Ri Ta dormiu em meu quarto e eu não tive
pesadelos, como vinha acontecendo nas noites anteriores. Era o mesmo em todas
as noites.
Tec-Tec - Cap 2
Um novo país, uma nova casa.
Me transferi para uma escola primária como professora de língua portuguesa; os
alunos precisam falar outras línguas fluentemente aqui e são ensinados boas
maneiras em seus primeiros anos de escola. Lugar acolhedor o Centro de Ensino
Kokoro. Meu lar era em uma dessas casas que as pessoas alugam suítes; uma casa
grande, com com várias destas alugadas somente para mulheres. Havia uma casa ao
lado, grande também, alugada somente para homens. Por trabalhar somente durante
as tardes na escola; mas acordar cedo, comecei a vender doces para as mulheres
da casa e para nossos vizinhos. Lucrava bastante com estes trabalhos e comprava
coisas para a casa; já que vivíamos em comunidade e muitas coisas eram
divididas. Ri Ta, uma típica japonesa do século XXI, me ajudava com os doces,
além m de lecionar boas maneiras na mesma escola que eu, e era dividido o lucro
das guloseimas.
...
Certo dia, um alvoroço se
formou na casa ao lado e corri para lá; achei que algum acidente acontecerá,
mas era só um novo morador. Erick era um velho amigo meu, conhecido da faculdade
e, agora, morava na casa ao lado. Eu o reconheci pela voz.
-O que você faz aqui?- Ele me
perguntou com o antigo sotaque paulista.
-Aconteceram coisas comigo que
eu prefiro não comentar. Precisava de uma vida nova...
-E veio parar do outro lado do
mundo?!- Ele riu da situação.
-Bem, foi. - Eu ri; já se
passou muito tempo desde meu último sorriso.
-Que tal irmos a um
restaurante mais tarde?
-Eu não conheço muito bem a
cidade; acho eu não...
-Vamos, vai ser divertido.
Chame Ri Ta, eu a conheço; talvez ela aceite ir também.
-Eu vou pensar. -Voltei para
casa no mesmo instante. Eu estava nervosa, mas achava aquilo uma boa ideia.
Falei com Ri Ta a respeito disso e ela disse que seria uma bom sair, pois eu
estava bastante estressada. Ela ligou para Erick e marcou de sair naquela
noite.
Fomos a um bom restaurante com
Erick. Era vegetariano, mas não achei estranho; a comida era fantástica e
conversamos bastante. Depois fomos à praça das cerejeiras; lugar lindo que,
naquela época, estava florido. Me diverti bastante e fomos para casa cansados.
Foi bom voltar a sair com outras pessoas e me divertir com elas; sentir alegria
perto de um cara era algo que eu não fazia a muito tempo.
...
Me levantei da cama e fui até
a geladeira para beber algo; no caminho, havia uma porta entreaberta com a luz
acesa. Ao entrar para apagar a luz, pude ver uma moça jogada no chão. Me
ajoelhei para socorrê-la, ela me agarrou pelos ombros e me chacoalhou. Acordei
gritando e me debatendo. Ri Ta veio correndo para me ver; lhe expliquei o sonho
e ela achou estranho.
-Vá dormir, querida. O dia
hoje foi cheio.- Ela me abraçou- Vai ficar tudo vem; boa noite.
-Obrigada por vir me ver. Boa
noite.
Passei algum tempo pensando
naquele sonho/ pesadelo estranho, mas consegui dormir depois. Ao menos com isso
não tenho problemas...
Tec-Tec - Prefácio e Cap 1
·
Prefácio
Há no Japão uma lenda que
conta a história de uma garota que “caiu” nos trilhos de um trem e, depois de
muito tempo agonizando, morreu cortada ao meio; dizem que ninguém a socorreu e,
por isso, ela busca vingança. Poucos sabem que sua real história deriva de um
estupro coletivo que ocorreu em uma estação de trem e, por não ter mais
capacidade de sobreviver, a menina acabou sendo atirada aos trilhos pelos seus
estupradores.
·
Primeiro capítulo
Acordei ainda tonta, imaginei
o que teria acontecido na noite passada. Aos poucos fui percebendo que estava
no chão de um banheiro imundo, toda ensanguentada e com roupas rasgadas. Me
levantei devagar, uma dor estranha por dentro; então percebi o que aconteceu:
eu havia sido abusada de forma violenta. Na hora, uma forte dor de cabeça me
atingiu e eu caí novamente naquele chão imundo. As lágrimas que escorriam do
meu rosto se misturavam com o sangue que, na pior das hipóteses, era meu. Que
nojo eu senti de mim, do meu corpo, de quem quer que tenha feito aquilo. Que
raiva! Talvez essa raiva tenha me impulsionado, talvez o resto de vida que eu
tinha pela frente para me vingar; não sei, mas algo me deu forças para
levantar, me cobrir com o resto de roupa que tinha em meu corpo e sair dali.
...
Depois de meses de processos
contra meus supostos estupradores, eu estava desgastada e consumida por aquela
terrível lembrança. Lapsos turvos de memória apareciam nas noites que eu
passava sozinha em casa. As pessoas de minha cidade pareciam me julgar pelo
acontecido; mesmo as que me conheciam não puderam compreender meu sofrimento.
Decidi me mudar, um lugar distante, no qual ninguém me conhecia; fui para
Tóquio.
Natasha - Cap 5
Ela sorria como se aquela
fosse a melhor tarde da vida dela, mas todas as tardes eram assim; talvez ela
possa sentir a alegria que sinto quando estou com ela. Natasha é um dos bebês
mais lindos e saudáveis que já ví.
Doutor Roberto viria conosco
para conhecer a creche na qual Natasha ficará enquanto trabalho, mas teve um
imprevisto. Minha mãe veio comigo e, como não é de primeira viagem, se
encarregou de ver todos os detalhes, se estava tudo nos conformes.
-Está tudo certo: o preço cabe
no orçamento, as instalações são boas e os cuidadores bem treinados.
-Não sei. Ela nem tem a idade
mínima...
-Tudo bem se você quer um
tempo a mais com seu bebê.
-Boa tarde. - Uma moça
elegante se dirigiu a mim. - Vocês vão matricular a...hm...
-Natasha. - Respondi.
-Natasha! Que nome bonito! -
Disse fazendo carinho na cabeça de Nat. - Então, matrícula?
-Desculpe, mas ainda não me
sinto segura para deixar meu bebê nas mãos de outras pessoas. Além de que ela
não tem a idade mínima para estar aqui. - Respondi, apreensiva.
-Entendo. -Ela sorriu
calorosamente. - Vocês querem café, suco ou água?
-Não, obrigada. Estamos indo
já. Ainda temos que comprar um carrinho hoje. - Minha mãe disse, rindo. Ela
adorava o fato de ter uma neta.
-Bem, então tenham um bom dia.
- A moça nos guiou até a porta de entrada. É...eu realmente não estava pronta
para deixar Natasha nas mãos de estranhos.
Natasha - Cap 4
Ela acariciava a barriga com
aquela pequena pessoa dentro, chorava por saber que não poderia viver com ela;
sim, era do sexo feminino.
-Venha comer, você precisa
estar forte.
-Pra que? Não poderei ver meu
bebê nascer...
-Mas ela sem forças e,
provavelmente, morrerá se você não comer. -A enfermeira tentava convencer
aquela pobre moça dia após dia. -E sua mãe; onde ela está?
-Ela vem amanhã; não pode vir
todos os dias. - Suspirou - Preferia que eu tivesse abortado a passar pelo
risco de perder a vida. Mesmo que seja uma operação muito complicada e que não
possa viver com meu bebê...
-Você não poderia matar está
criança, eu sei. -Suspirou também.
Após poucos meses a moça não
estava mais lá e nem sinal de seu bebê. A enfermeira procurou saber um pouco
mais sobre a história das duas, mas não conseguiu; as informações haviam
sumido, era como se tudo não passasse de ilusão.
-Pobre bebê, onde estará você?
Natasha - Cap 3
-Nossa! Obrigada mesmo Doutor
Roberto!-Érica saía da sala tão feliz que era possível ver seu sorriso mesmo de
costas.
-Ah, minha pequena, você está
em boas mãos...-Ele sussurrou quando já estava sozinho, lembrando do terrível
erro que cometera.
Depois que sua esposa faleceu,
Roberto era um homem sozinho e não se importava com isto até morgana ir
trabalhar em sua empresa. Uma negra muito bonita: cabelos longos e encaracolados,
olhos castanhos e enormes como petecas; ele não conseguiu se segurar e o
romance com ela começou. Em alguns meses já viviam juntos, era tudo normal.
Certo dia, Roberto chegou em
casa e não achou mais Morgana, somente um DVD em cima da cama e um bilhete
"Desculpe, mas ainda não estou pronta para isso". Ele colocou o DVD
para rodar, era uma ultrassonografia -Morgana estava grávida. Ele tentou
encontrar a moça: ligou, foi ao antigo apartamento dela, mas não tinha
vestígios dela.
Roberto ficou triste por
meses; contratou uma nova secretária. Quando já tinha perdido as esperanças,
ele recebeu uma carta da mãe de Morgana lhe jogando pragas por sua filha ter
morrido no parto da criança e dizendo que deixaria está na porta de qualquer
pessoa; junto tinha uma foto do bebê -uma menina. Roberto reconheceu que era o
mesmo bebê das fotos que Ética levou a ele.
-Você está em boas mãos.
Natasha - Cap 2
-Mãe, conta como você me
achou. - Natasha tinha um brilho no olhar, como sempre.
-Bem, eu ia saindo para uma
aula na faculdade quando recebi a ligação da Sophia dizendo que os professoras
estavam em greve. Marquei de ir no shopping com ela e, quando abri a
porta...-Ela suspirou -Você estava lá, acordada dentro de uma caixa , só de
fralda e com um pano para te proteger. Te peguei e você riu.
-Sério?
-Sim. -Érica já estava quase
deixando cair as lágrimas. -Entramos em casa, te vesti com uma blusinha minha
que serviu bem como um vestido em você. Depois fomos direto ao shopping;
comprei algumas fraldas e aluguei um carrinho de bebê. Tive que pedir ajuda a
uma das mães do fraldário; nunca tinha trocado alguém, aprendi na prática.
-Elas riram. -Sentei na praça de alimentação e esperei a Sophia.
-E como foi a cara dela?
-Sabes como ela é, ficou louça
de amores por você. "Que linda, Érica!"- Ela imitou a amiga. -Depois
de certo tempo, você começou a chorar de fome, compramos umas papinhas feitas.
Sua avó estava por lá e se assustou ao me ver com um bebê. " O que foi?
Gestação de 5minutos?!" ela se irritou no início, mas foi bastante compreensiva
depois. Você é tão linda que ninguém poderia deixar de te amar. -Érica suspirou
novamente. -Decidimos te adotar. Foi uma grande batalha durante meses por sua
guarda. Tive esse tempo para me preparar para sua chegada...tivemos chá de
bebê, recebi doações e algum apoio.
-Que legal, mamãe!
-Com a greve, pude organizar
as coisas e minha agenda. Falei com meu chefe sobre a situação e ele entendeu.
Doutor Roberto me deu até um aumento, na época eu era secretária; depois me
tornei gerente do departamento. -Ela riu. -Seu berço era estilo Moisés: uma
cesta com rodinhas muito fácil de usar e seguro. Bem, hora de dormir, amanhã te
conto o resto.
-Poxa...- Natasha se cobriu
com o lençol de borboletas que ganhou da avó. -Tudo bem. Boa noite, mãe. Te
amo.
-Boa noite, querida. Também te
amo. -Érica lhe deu um beijo na testa e foi para seu quarto.
Natasha - Cap 1
Ele entrou no prédio, podia
perceber que era algo simples e os apartamentos eram pequenos. Somente um
elevador, decidiu ir de escada; só iria até o quinto andar, mas praguejou ao
chegar suado ao terceiro. Continuou subindo pelo elevador. Ao chegar na porta
do apartamento, pensava no passado, na amizade deles, no jeito fofo dela e de
como se afastaram. Hesitou, mas bateu na porta.
-Olá. Quem é você?- Uma
garotinha negra de seus quatro anos estava no outro lado da porta.
-Ah, acho que bati na porta
errada...
-Querida, quantas vezes já te
disse para não falar com estranhos?
-Desculpa, mamãe. - A menina
olhou para o chão claramente constrangida.
-Tudo bem. - Então ela olhou
para a pessoa na porta. - Mateus?- Ela girou a cabeça para a esquerda, como
sempre fazia antes.
-Oi, cheguei em uma hora ruim?
-Não, entre. - Eles sentaram
no sofá da sala. -Nossa, quanto tempo faz que não nos vemos? Cinco anos?
-Eu acho. -Ele suspirou. -Você
até já é mãe...
-É. Como estão as coisas?
-Bem, estou legal e está tudo
bem. Mas fui despejado semana passada.
-Poxa, você retornou para a
casa da sua mãe?
-Bem, acho que já vou, antes
que seu marido chegue; ele pode pensar besteira se nos ver assim.
-Marido?! -Ela riu. -Eu não
tenho marido.
-Mãe solteira?
-É. Natasha foi deixada em
minha porta dentro de uma caixa a alguns anos. -Essas palavras fizeram Mateus
cair no sofá novamente.
-E você a adotou?
-Sim. Estava na faculdade
ainda, mas já trabalhava. Minha mãe me ajudou muito enquanto vivi na casa dela,
e continua me ajudando. Me mudei para cá por querer mais espaço para minha
filha, já que mamãe montou uma mini agência de administração em casa; depois de
tanto tempo ela volta a trabalhar...
-Impressionante. E eu aqui
reclamando da minha vida.
-Não tenho do que reclamar,
somos felizes. Ah, a guarda dela é compartilhada; uma amiga minha se comoveu
com a história e decidiu ajudar. -Ele, pela primeira vez, reparou na menina.
Ela tinha cabelos encaracolados e olhos pretos enormes, estava com um rabo de
cavalo e vestido florido; "Bem fofa" pensou. Já a mãe tinha cabelos
castanhos longos e lisos, também rabo de cavalo; shorts e blusa sem manga;
estava linda, como sempre.
-Isso é incrível; você e
ela...- Ele sorriu.
-Sim, me conta como tem sido
sua vida.
-Ah,...- E, assim, eles
retomaram sua amizade.
Monstros - Cap 5
-Vem gatinho, vamos passear!
"Decidi mudar de lugar
sempre que der. Hoje organizei algumas coisas e decidi me mandar daqui; o gato
vem comigo, se tornou meu amigo."
-Fica aí dentro, tá?!
"Achei a casinha de
viagem dele, o pequeno se sente seguro e confortável lá dentro.
Andei treinando manobras nesta
pequena rua e acho que consigo dirigir um celta que achei por aqui. Claro que
me precavi pegando comida e gasolina para dias a fio."
...
-Você é doido?!- Gritei de
dentro do carro quando um garoto se atirou na minha frente.
-Um pouco. Agora posso
entrar?!
-Não! Nem te conheço!-
Tranquei as portas.
-Também não te conheço, mas
você é minha única esperança de sair daqui. - Ele andou até minha porta. -Por
favor. A comida acabou e eu estou sozinho aqui.
-Tá, mas espera um pouco. -
Saí do carro com uma corda e amarrei as mãos dele bem firme - não queria mais
problemas, e coloquei a casa do gato no banco de trás.
-É de estimação?- Ele
perguntou tentando ser simpático.
-Não, você é de estimação. Ele
é meu amigo.
-Nossa...
-Você é o novato aqui!- Olhei
firme nos olhos dele. - Agora vamos. Senta do meu lado que eu quero ficar de
olho em você.
-OK, OK. - Ele se jogou no
banco do carro e puxou o cinto com as duas mãos. Me sentei e liguei o carro com
uma cara emburrada.
-Desculpa por ter me jogado na
frente do seu carro. -Ele tentava um tom bastante amigável.
-Tudo bem. Desculpado. -Eu ri.
-Mas não pense que eu vou desamarrar suas mãos...me fale mais sobre você. -Ele
me olhou desconfiado e eu ri. -Vamos, eu tenho que saber se posso confiar em
você.
Monstros - Cap 4
"Eu estava procurando
coisas úteis nas casas da vila quando várias criaturas passaram na rua. Corri
para ver. Eles levavam algo em um saco grande. Como eu sempre estava com uma
desert Eagle que achei, resolvi ver o que aconteceria.
Como as criaturas seguiam para
o templo, andei pelos telhados das casas com cuidado para não fazer barulho.
Dei um jeito de passar por uma janela aberta e observei por alguns instantes.
Certa hora, as criaturas
começaram a emitir grunidos que entravam em harmonia e pulavam em volta do
pacote. Eles tiraram algo de dentro que, apesar de estar bastante deformado,
era uma pessoa desacordada. Então, cada monstro cravou profundamente os dentes
naquele corpo e se afastaram.
A pessoa, que aparentava ser
um homem, acordou atordoada. Este se debateu e urrou de dor; arrancava a
própria pele, de onde parecia vir a origem de tanto sofrimento. A carne dele se
rasgou e pude ver mais um monstro nascer."
Monstros - Cap 3
"Droga, agora peguei essa
mania de escrever. Será um problema quando me atacarem. Já pensou?! Afinal,
neste mundo tomado por monstros, quem sobre pra ler o que escrevo? Estou só?
Vou enlouquecer?"
-Oi, gatinho! Não se jogue
assim nas folhas! - Disse. Preciso de um nome pra esse gato... - Vem, vamos
comer.
Fiz picadinho para vários
dias, pois sabia que estávamos seguros naquela casinha.
"Ao chegar, não percebi,
mas estava em uma pequena rua que acabava em um templo. Do início até o templo
não tinha 100 metros; as casas eram pequenas também, mas altas. Era possível
ver alguma bagunça de quando aqueles monstros atacaram, nada me assusta mais...
Outra coisa que percebi foi
que os monstros só saem durante a noite. Será algum problema com o sol?! De
qualquer forma, vou me beneficiar disso."
- Aqui, gatinho...
Monstros - Cap 2
Corri mais do que podia depois
do barulho de uma explosão e acabei caindo. Estava no meio de uma pequena rua
e, ao olhar para o prédio em que estava, pude ver o fogo se espalhando. Não era
normal algo assim, pode ter sido uma daquelas criaturas procurando comida. Me
escondi em uma casa que estava perto - depois dos ataques, era normal que as
pessoas saíssem de suas casas apressadamente, deixando tudo para trás e portas
abertas (das quais eu sobrevivia). Encontrei poucas coisas, mas poderia
aproveitar além do fato dessa casa ter chaves nas portas dos quartos.
Durante as horas iniciais do
dia seguinte, fui às outras casas e achei algumas coisas interessante, um
gatinho e armas. ARMAS! Finalmente!
Agora ficarei mais um pouco
por aqui.
-Vem, gatinho...
Monstros - Cap 1
Eu estou só, ele sabe disso,
ou ela. Aquilo! Uma criatura sombria mas não sabe onde estou e a única coisa
que posso fazer é ficar quieta. Isso me seguiu por dias enquanto eu voltava da
escola e observava quando eu estava dormindo, eu podia sentir.
Certa noite, gritos ecoaram
por todos os lados e eu via pessoas correndo de criaturas como aquela que me
perseguira, mas a minha havia sumido. Arrumei algumas roupas em uma mochila
(sim, eu sempre tenho uma bolsa pronta para viajar) e fugi. Enquanto o mundo
era tomado por essas criaturas e os vermes comiam a carne de quem eu amava,
vivia em buracos e ruelas; roubando comida de onde conseguia e fugindo daquelas
criaturas horrendas...
Elas eram enormes e
assassinas. Não sou uma atleta; mas ,quando se trata de vida ou morte, correr é
melhor que ter seu corpo dilacerado.
O mais triste foi deixar minha
família para trás. Estavam todos mortos quando saí de meu quarto. Às vezes,
penso se existe um porquê de eu não ter morrido também.
Agora estou aqui, em um barril
de vinho (para segurar meu cheiro). A criatura lá fora me procurava não era a
mesma dos meus trajetos da escola. Talvez eu morra aqui...
-Deixe-a em paz!- Uma voz
grotesca ecoa e, logo após ela, um tiro.
Fico imóvel ouvindo os passos
se afastando e o silêncio que domina o ambiente.
Olho por um espaço que havia
entre a tampa e o barril e posso ver a criatura ferida e morta. Saí de lá e
olhei mais de perto; era um tiro de sinalizador, a arma estava vazia perto do
corpo. Peguei minhas coisas e algumas outras antes de sair daquele local. A voz
grotesca e o tiro ainda ecoava em meus ouvidos enquanto corria até o próximo
local para me esconder.
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A casa - redigido em 15/06/2018
Ela acordou ao ouvir as tábuas sendo tiradas de sua porta e os passos apressados. Depois de tanto tempo presenciando os mais diversos tipos ...
-
Você já tentou isso? Ver as coisas de uma outra forma? A falta de planejamento nos leva a pensar de forma automática a maior parte do tempo...