sábado, 29 de abril de 2017

1001 noites de pesadelo - Em outras mãos

Ela abriu os olhos e sentiu o corpo todo doer. Era carregada pelo ombro por alguma criatura humanóide. Estavam em um corredor sombrio quando abriram a porta; e a moça fingiu que ainda estava desmaiada. Entraram em um salão grande e bastante sujo.
-Ah, criança. - Seu corpo tremeu ao ouvir aquela voz horrível novamente. - Vê? Eu acabei com seus protetores um por um!
-NÂO! ELA NÂO!
-Grite o quanto quiser. Ninguém pode te ouvir. Não dessa dimensão.
-Por favor. Por favor. “Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio.”. - Romeu sussurrava enquanto chorava.
A moça sentiu seu corpo vibrar e as dores sumirem. Se colocou de pé em um pulo.
-Eu posso ouvir.  - Aquela voz saía de sua boca, mas não era dela.
Todos se viraram para ela naquele salão.
-Como isso é possível?!
-”O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma.”
Neste momento, uma luz forte começou a brilhar no meio daquele lugar e, dela, um raio partiu. Todos os cantos do salão foram atingidos e despedaçados.
...
-Filha, filha. - Ela sentiu o abraço de sua mãe. - Você está bem?
-Eu tô. - Então percebeu que estava conectada a tubos e aparelhos. - Eu quero me levantar.
-Você ainda não está bem. Estamos em um hospital.
-E Romeu?
-O menino?
-Sim.
-Está na outra sala.
-O que aconteceu?
-Acharam vocês em um campo aberto a poucas quadras daqui. Parecia ter sido um acidente, mas não tinha nada ao redor.
-Nossa…
-Querida, tenho que ir. Descanse.
-Obrigada, mãe.
Um outro abraço se seguiu e a senhora de meia idade saiu do quarto.
A moça encostou a cabeça no travesseiro ainda confusa e assustada. Assim, percebeu que Romeu estava sozinho e desprotegido depois que tudo o que aconteceu; sentou na cama e estava pronta para ir ao quarto ao lado. Mas parou ao ver uma cruz vazia na parede e o versículo que estava logo abaixo dela - II Crônicas 20:15. Se aquietou na cama e, com a resposta em seu coração, descansou.  

sábado, 22 de abril de 2017

1001 noites de pesadelo - Ataque

Eles estavam correndo novamente; não sabiam do que, mas corriam. Os corredores ficavam mais estreitos e sombrios a cada porta aberta e as lâmpadas atrás deles espocavam como balões. Era difícil distinguir se aquilo era outro pesadelo, mas o corte na têmpora da moça parecia bem real. Ao abrir uma última porta, se viram em uma quadra bastante iluminada pela luz da lua. A menina começava a lembrar o trajeto até ali - os sussurros de Romeu, a correria pela cidade e o desmaio ao chegar na escola abandonada; então as luzes todas se acenderam e o medo se instalou.
-Romeu, você está bem?
-Sim, sim. E você?
-Estou bem. Desculpa ter te deixado…
-Você passou pouco tempo desmaiada. Sei que pode ter parecido horas, mas foram só segundos.
-Eu ainda não entendo o que aconteceu.
-Nem eu. Parece tudo tão confuso. As luzes piscando, pessoas correndo atrás de nós.
-Então foi tudo real?
-Sim. - Algumas lágrimas escorreram por seus olhos. - Nada é normal ou bom quando estou por perto. Estou com medo, muito medo.
-Não fique assim. - A moça o abraçou e sentiu pena do garoto, mas não podia mudar aquilo que aconteceu antes. Foi quando se deu conta que algo rastejava até eles sorrateiramente.
-Romeu, corre!
-O que foi?
-Aquilo. - Ela apontou para a sombra que se formava bem na frente deles e tomava a forma de uma pessoa.
-Garoto, venha até mim. - Uma voz horrível saiu daquilo e fez a criança tremer de medo. Romeu não conseguia reagir nem aos puxões de sua protetora.
-Não! Você não tem poder nenhum sobre ele, sua criatura desprezível! - A moça disse, se colocando de pé.
-Não se meta nisso, humana. - E o que era só sombra se tornou duas pessoas incrivelmente bonitas e bem apessoadas; contudo, era possível sentir a maldade emanar delas. As formas que tinham os pais de Romeu antes de serem dilacerados.
-Você não tem mesmo vergonha!
-Não preciso ter vergonha. - Era tudo sincronizado e uníssono, do sorriso doentio à voz.
-Sombras, vocês não vão pegar esse garoto, não no meu turno. - A garota se lançou contra os monstros, desferindo um golpe em cada. - Corre, Romeu! Corre!
O garoto despertou de seu estado de choque e saiu correndo.
-Você vai pagar por isso!
E tudo escureceu.

sábado, 15 de abril de 2017

Natsha - cap 9

-Mãe, mãe!
-Estou lendo.
-Desculpa. Só queria te lembrar de quem vem nos visitar essa semana.
Érica pensou em várias pessoas com quem teria reunião durante algum tempo e concluiu que nenhuma seria em sua casa.
-Algum trabalho seu de escola?
-Não. - Natasha ria com a bobagem da mãe.
-Parente?
-Não, mãe. É o coelho da páscoa.
-Ah… - Ela não acreditava como poderia ter esquecido disso. - Tudo bem.
-Eu já vou dormir. Até mais, mamãe.
-Quer que eu vá te cobrir?
-Não, tudo bem. Boa noite.
-Boa noite, querida.
Assim que a garotinha saiu da sala, Érica começou a organizar um plano de brindes de páscoa para a empresa e para sua casa.
No dia seguinte, ela deixou a pequena na escola e correu para o comércio. Passou em casas de festa, papelaria e lojas de R$ 1,99 comprando de tudo - inclusive coisas comestíveis. Isso durou todo o período em que a menina estaria na escola. Depois foram almoçar juntas no shopping e assistir um filme. Enquanto ela brincava no parque, Érica tirava fotos e mandava mensagens para a secretária da empresa e para sua mãe tentando organizar o que fariam no feriado.
Natasha dormiu no carro durante o caminho de volta para casa. Depois de colocar a pequena na cama e descarregar o carro, a moça estava mais que exausta; então simplesmente organizou algumas coisas para o dia seguinte e caiu na cama.
Pela manhã, acordou com seu celular tocando. Era a secretária preocupada com seu atraso. Saiu correndo, mas só conseguiu deixar Natasha na escola depois do terceiro horário. Chegou na empresa, ligou para sua mãe e lhe pediu que fosse pegar a neta na escola; ela respondeu que ficaria a tarde toda com ela.
Érica agilizou algumas reuniões e papeladas. Contudo, chegou na casa de sua mãe bem mais tarde do que pretendia e a menina já dormia. Levou-a para casa e começou a montar o ovos de colher que daria de presente no domingo, na casa de sua mãe. Por volta de duas horas da manhã, começou uma videoconferência com investidores de Paris e tiveram uma longa conversa até 6:30. Então, ela aprontou Natasha para a escola e tomaram café juntas.
-Mãe…
-Oi?
-Eu esqueci de te falar, mas vai ter minha festinha de páscoa no sábado.
-Ôh, minha filha. - Ela disse enquanto acariciava o cabelo da menina. - Eu sei. Me mandaram um email. Apesar de achar estranho fazerem nesse dia.
-Ah, tá. Que bom.
-Você já acabou de ler o livro que compramos semana passada?
-O do príncipe?
-Sim.
-Achei chato. A rosa é muito boba e ele é um cara que não pára em nenhum lugar, só vive viajando. - Ela suspirou. - E ele morre no final por não querer sair de perto das cobras.
Érica riu da descrição, era exatamente a mesma que ela faria.
-Posso ir pra casa da Mariana depois da festa?
-Foi ela que te convidou? - Érica sabia reconhecer os defeitos da filha quando necessário.
-Sim. - A menina bufou. -Por favor, mãe...
-Tá...
O resto daquele dia foi tão corrido que Érica não se lembraria se não tivesse escrito tudo o que aconteceu. Das reuniões pela manhã, passando pelo almoço rápido e cheio de papeladas para assinar no escritório, até o jantar enquanto montava os brindes e a festa de páscoa, com a ajuda da secretária, em uma hora e meia depois do expediente.
Com a correria do dia anterior, mãe e filha passaram da hora no sono e no café da manhã. Depois, correram para a escola de Natasha. Contudo, ela acabou pegando uma suspensão por ser a terceira vez que chegava atrasada naquele mês. Deram meia volta no carro e foram para a festa da empresa; que, apesar de tudo, foi realmente divertida. A maioria dos pais levaram suas crianças e Dr. Roberto, que agora estava em outra agência maior, também compareceu.
-A menina está grande. Você a educou bem, Érica.
-Obrigada, senhor. - E ela o abraçou. - O senhor é o pai que nunca tive, seu Roberto.
-Isso me deixa muito feliz. - E deixaram algumas lágrimas caírem. - Ah, e isso é pra Natasha. - Pegou um ovo que estava escondendo atrás de si e entregou à moça. - A atendente disse que crianças geralmente gostam desses.
-Tio Roberto. - A pequena correu e o abraçou também. - Como o senhor está?
-Estou bem, querida.
Roberto se desvencilhou da conversa e foi até o banheiro. Entrou em um dos boxes se perguntando quando contaria a verdade a Érica. Lembrou-se dos emails escritos e cancelados por puro medo da reação dela. Lavou o rosto e voltou ao salão.
Natasha em pessoa o convidou para ir à casa da avó no domingo, na comemoração. Ele aceitou muito feliz.
Na sexta-feira, a moça e a filha foram ao culto pela manhã. Depois ficaram em casa assistindo alguns filmes.
No sábado houve a festa de Páscoa da escola. Estava tudo muito fofo e bonito, apesar do vestido que a garota fez questão de sujar antes da apresentação. Então, a pequena foi para a casa de uma amiga brincar e Érica foi à casa de sua mãe e ajudou a arrumar a casa para o dia seguinte. Prepararam algumas brincadeiras e surpresas para Natasha; contudo, nada poderia prever o que aconteceria no dia seguinte.

sábado, 8 de abril de 2017

Natasha - Cap 8

Pessoal, antes de tudo quero pedir a ajuda de vocês. Estamos passando por um tempo com baixa audiência no blog e queria pedir a vocês que comentem e compartilhem nossos links com outras pessoas. Aguardo seus comentários. Espero que gostem das histórias.
...

Acabado o trabalho, Érica discou o número de Sophia e colocou no viva-voz; enquanto esperava a amiga atender, abriu mais uma papinha para dar a Natasha.
-Alô?
-Sophia, sou eu. Tive algumas ideias para o baby chá.
-Mana, tudo bem?! Espero que sim! O baby chá pode ser na minha casa! Achei umas comidinhas muito boas e baratas para vermos. E o estilo?! Fashion ou Vitoriano?! Acho que vitoriano ia ficar lindo! Pensei em montarmos logo uma lista de convidados e distribuirmos os convites…
-Mana, calma!
-Tá, tô calma.
-Temos que conversar pessoalmente para juntar as ideias.
-Tá. Em 15 minutos eu tô aí.
-Não, eu…
-Tchau.
Érica suspirou pelo cansaço e riu da situação.
-Tá vendo?! - A moça olhava para seu estado decadente no espelho. -Mas isso não vai ficar assim. Vamos comer logo essa papinha que eu vou me arrumar. - Continuou dando papinha para a pequena; a colocou para arrotar quanto terminou.
-Bem, um short não faz mal. - Disse, tirando uma muda de roupas do armário. Espalhou uma toalha no chão, onde deixou a bebê enquanto se trocava. “Ainda bem que meu quarto é limpo.” Alguns minutos foram o suficiente para Natasha sujar toda a fralda que ela tinha acabado de trocar.
-Nossa, que rápido. Bem, fazer o que, né?! - Então, em alguns segundos, organizou tudo o que precisava para trocar a fralda da criança. -Essa luta eu já venci. - Com alguns lencinhos umedecidos limpou aquela sujeira toda; passou uma toalhinha molhada, pomada e colocou a fralda direitinho. -O treinamento de ontem não foi fácil, mas foi proveitoso. - Natasha riu do jeito engraçado de Érica. -Vamos, está na hora.
A moça desceu as escadas com o bebê no “berço”, um caderno e algumas canetas debaixo do braço. Logo a campainha tocou; era Sophia.
-Mana, entra.
-Trouxe uma pizza para comermos. - Sophia tinha o pacote, o notebook, um caderno, uma bolsa, sacolas de supermercado e a chave dos carros nas mãos.
-Tô vendo. - Ela pegou várias coisas dos braços da amiga e levou para a cozinha. Colocaram a comida para esquentar e organizaram uma área para discutirem sobre o baby chá.
Naquele dia foi rápido planejar a festa. Uma semana depois elas já tinham todo o dinheiro para a decoração e as comidinhas e os convites já tinham sido enviados.
Na véspera, Érica estava tão cansada que deixou Natasha sob os cuidados de sua mãe e dormiu até anoitecer. Contudo, a manhã seguinte foi cheia de trabalho em decoração e fraldas sujas; e, pela tarde, foram comprar os salgados e doces que serviriam mais tarde.
Durante a festa aconteceram várias brincadeiras e outras coisas que deixavam os convidados animados e Érica bastante irritada. Ela não sabia dizer se eram as dores nas costas ou o estresse que a estavam deixando desanimada e triste. Ela mesma não entendia o porquê de estar chateada e sem vontade de nada. Subiu ao quarto de Sophia e dormiu em sua cama até o final da festa. Quando desceu, todos os convidados já tinham ido e Natasha dormia em um berço estranho.
-O que houve com você? - Sophia falou com um tom preocupado.
-Estou bem, só fui dormir um pouco. - Érica suspirou. - Que berço é esse?
-Um de seus convidados trouxeram presentes bem interessantes. Temos várias coisas como esse berço, eco fraldas, roupinhas, mamadeiras e outros presentes não tão interessantes.
-Obrigada por me ajudar com tudo. Eu estou tão cansada.
-Tudo bem. Se quiser deixar Natasha comigo qualquer dia para descansar eu vou entender.
-Obrigada.
-Vocês vão ficar aqui hoje, certo?
-Sim, falei com minha mãe sobre isso e ela disse que tudo bem.
-Ok. Então hoje é minha vez de ficar com esse bebê lindo.

sábado, 1 de abril de 2017

10 coisas para se fazer antes de partir - Um tempo com Júlio Verne

Depois de pensar bastante, comecei a bolar o plano mais audacioso que já pude. Peguei um mapa mundi, que estava guardado de meu tempo de escola, e o colei na parede. Com uma caneta permanente grifei os territórios de países que queria conhecer. Ao todo deram 11 países espalhados por todos os continentes.
Comecei a pesquisar formas de viajar, mas todas pareciam bem caras. Então me lembrei de uma história da faculdade; alguns amigos meus viajaram pela Europa gastando bem pouco com uma técnica chamada mochilão.
Pesquisei várias coisas sobre pessoas que iam a lugares distantes com o mínimo de coisas que  poderiam. Descobri que existem várias formas de economizar e, até, ganhar dinheiro nessas aventuras.
Uma semana de pesquisa foi o suficiente para ter contatos. Eu já tinha vários sites e telefones de empresas, lugares, amigos e familiares que poderiam me auxiliar. Decidi que não levaria ninguém comigo, pois não era justo que alguém interrompesse sua vida para tomar conta de mim nessa aventura.
Na semana seguinte contei aos meus familiares o roteiro que faria. Minha mãe quase tem um treco
Na segunda-feira comecei a organizar as roupas que levaria para minha primeira parada: Europa. Lá poderia ficar na casa de uma amiga que morava no interior; dali, iria passear pelos países de ônibus ou trem.
Na terça, fui a um brechó e troquei quase todas as minhas roupas que não estavam na mala por outras e saí com mais 50 reais. Isso acendeu uma luz em minha cabeça e organizei minhas coisas para vender ou doar; deixei somente cama, mesa e escrivaninha vazios no quarto. Nos dias seguintes, fui com meu irmão vender o máximo de caixas que pude. Doei todo o resto na sexta.
Durante os dois próximos meses, fiz várias baterias de exames e outros procedimentos médicos. O especialista foi contra a minha viagem, mas sabia que não podia fazer nada para melhorar a condição em que eu estava. Comprei todos os medicamentos da receita; mesmo que tenha me levado ⅕ das economias que gastaria nessa aventura.
Passou mais um mês para conseguir todos os documentos necessários e cartões para usar, mesmo indo de país em país. Outra coisa que demorou e me deu dor de cabeça foi o plano de saúde; quase impossível achar um que atenda em todo o planeta.
Minha ansiedade era tamanha que fazia cada dia parecer uma eternidade. Chegou a hora de reorganizar as malas, já que as roupas não poderiam ficar por tanto tempo lá dentro; a rapidez da lavadora e da secadora me deram autonomia para fazer isso só alguns dias antes de viajar.
E, como num piscar de olhos, eu já estava entrando no avião com minhas mochila e mala de mão (sim, eu levei tudo nessas duas); depois de fazer check in, pesar a bagagem, conferir passaporte, o voo ter sido adiado duas vezes e outros milhões de mini problemas que aconteceram.
Chorei quando me despedi da minha família e de medo dentro do avião. Olhei para minha cidade pela janela e percebi que todo o esforço valeu a pena e que o susto era passageiro comparado às coisas que iria descobrir. Relaxei e li um dos livros que trouxe de Júlio Verne; depois, dormi bastante.

A casa - redigido em 15/06/2018

Ela acordou ao ouvir as tábuas sendo tiradas de sua porta e os passos apressados. Depois de tanto tempo presenciando os mais diversos tipos ...