Eles estavam correndo novamente; não sabiam do que, mas corriam. Os corredores ficavam mais estreitos e sombrios a cada porta aberta e as lâmpadas atrás deles espocavam como balões. Era difícil distinguir se aquilo era outro pesadelo, mas o corte na têmpora da moça parecia bem real. Ao abrir uma última porta, se viram em uma quadra bastante iluminada pela luz da lua. A menina começava a lembrar o trajeto até ali - os sussurros de Romeu, a correria pela cidade e o desmaio ao chegar na escola abandonada; então as luzes todas se acenderam e o medo se instalou.
-Romeu, você está bem?
-Sim, sim. E você?
-Estou bem. Desculpa ter te deixado…
-Você passou pouco tempo desmaiada. Sei que pode ter parecido horas, mas foram só segundos.
-Eu ainda não entendo o que aconteceu.
-Nem eu. Parece tudo tão confuso. As luzes piscando, pessoas correndo atrás de nós.
-Então foi tudo real?
-Sim. - Algumas lágrimas escorreram por seus olhos. - Nada é normal ou bom quando estou por perto. Estou com medo, muito medo.
-Não fique assim. - A moça o abraçou e sentiu pena do garoto, mas não podia mudar aquilo que aconteceu antes. Foi quando se deu conta que algo rastejava até eles sorrateiramente.
-Romeu, corre!
-O que foi?
-Aquilo. - Ela apontou para a sombra que se formava bem na frente deles e tomava a forma de uma pessoa.
-Garoto, venha até mim. - Uma voz horrível saiu daquilo e fez a criança tremer de medo. Romeu não conseguia reagir nem aos puxões de sua protetora.
-Não! Você não tem poder nenhum sobre ele, sua criatura desprezível! - A moça disse, se colocando de pé.
-Não se meta nisso, humana. - E o que era só sombra se tornou duas pessoas incrivelmente bonitas e bem apessoadas; contudo, era possível sentir a maldade emanar delas. As formas que tinham os pais de Romeu antes de serem dilacerados.
-Você não tem mesmo vergonha!
-Não preciso ter vergonha. - Era tudo sincronizado e uníssono, do sorriso doentio à voz.
-Sombras, vocês não vão pegar esse garoto, não no meu turno. - A garota se lançou contra os monstros, desferindo um golpe em cada. - Corre, Romeu! Corre!
O garoto despertou de seu estado de choque e saiu correndo.
-Você vai pagar por isso!
E tudo escureceu.
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