Sentiu o telefone vibrar várias vezes no seu travesseiro. Abriu os olhos e o colocou na frente do rosto; aquela luminosidade toda a deixou com tanta raiva que o jogou do outro lado do quarto. A porcaria bateu na parede e caiu bem na cama de Romeu. Ela saiu correndo e o pegou de volta; saiu do quarto e decidiu ver o que era aquilo.
-O que?! 72 chamadas não atendidas da mamãe?! - Bufou de raiva. Parece que apesar de tudo o que estava passando ainda tinha que inventar desculpas esfarrapadas para sua progenitora.
-Oi, mãe. Eu tô bem e a senhora?
-Olha aqui garota! Você não tem vergonha de me deixar sozinha aqui! Eu tenho esse problema no joelho, não posso ficar trabalhando assim!
-Tá, eu entendo.
-Volta logo!
-Tá. Até mais.
-Até.
“O que foi isso?! Ela não é assim…”
-Não era sua mãe. - Romeu surgiu na porta com uma ponta de preocupação estampada no rosto.
-O que você quer dizer? - O susto não deixava a moça pensar direito.
-Eram as trevas. É normal estar confusa assim. Imagine quando a minha tentou me amarrar no meio da noite…
-Sim, eu pude ver o que aconteceu daquela vez que você me passou seus pensamentos no carro. Por pouco você não escapa.
-Eu não conseguia ler os pensamentos dela. Então, naquela noite, sonhei com alguém me matando. Acordei assustado e me escondi debaixo da cama. - Seus olhos se encheram de lágrimas.
-Ela entrou no quarto com cordas e te procurou, mas não achou e foi ver no resto da casa.
-Eu conseguia escutar tudo que ela pensava. - Nesse momento o garoto deixou as lágrimas que já estavam em seus olhos rolarem. A moça o abraçou e os dois choraram juntos; lembrando daquela noite horrível e se perguntando o que seria deles nessa corrida contra o tempo.
…
-Vamos almoçar. - Aquele dia começou cansativo, mas ela estava convencida de que deixaria uma cor naquela data.
-Vamos…
-O que foi? - Ela o abraçou e pode ver o que se passava na mente de Romeu. Ele estava lembrando dos momentos bons com a mãe; parecia ter passado uma década desde que aquilo aconteceu. Ela o apertou mais forte em seus braços. -Você é só uma criança, não deveria ter tanto peso sobre os ombros…
-Eu não entendo tudo isso...
-Vamos almoçar no restaurante aqui perto e depois vamos ao parque. O que acha? - Ela tentou desviar do assunto.
-Tudo bem. - Ele enxugou uma lágrima e sorriu. -Eu pago dessa vez.
-Como assim?
-Você vai ver.
Eles tomaram banho e se arrumaram para sair. Foram ao restaurante ao lado do hotel que estavam hospedados. Romeu se aproximou perigosamente de um senhor respeitável que estava na porta e ela sentiu uma pontada de medo.
-Senhor, estamos com fome. Poderia comprar algo para comermos?
-Claro, garotinho.
Andaram até o meio da rua, quando Romeu pegou na mão dela. “Esse homem não precisa desse dinheiro. Ele iria gastar com drogas e bebidas. Acho que salvamos a esposa dele de ser violada novamente hoje.” A moça olhou assustada para o garoto. Não tinha coragem de olhar para o homem atrás deles. “A maldade desse mundo é muito grande.”
-Concordo. - Romeu correu até a porta da loja como uma criança que acabou de se lembrar que lá dentro tem sorvete.
-Não me deixa sozinha aqui! - Ela se arrependeu de dizer aquilo tão alto logo que uma mãe de duas crianças a olhou de forma estranha.
-Desculpa. Quero logo fazer meu pedido. Estou com fome.
-Ok, ok.
Eles pediram um bom almoço e o homem logo pagou. Romeu pegou na mão dela e respirou fundo. “Agora passe em uma floricultura para comprar flores e chocolate para sua esposa. Nunca mais a desrespeite. E peça desculpas por ser uma pessoa ruim.”
Ela olhou de Romeu para o homem na sua frente.
Depois de um tempo almoçando ela olhou nos olhos de Romeu. “Nunca faça comigo o que fez com aquele cara”.
-Não dá. Se eu pudesse, já teria feito. Você é muito impulsiva e isso seria facilmente controlado. Mas não consigo controlar sua mente.
-Hum, melhor mesmo.
-Mas seus poderes estão bem melhores.
-Meus poderes?
-Sim. Já conseguimos nos comunicar a distância só com a mente.
-Então eu sou diferente?
-Não, todos têm esse poder. Só alguns desenvolvem até esse ponto.
-Entendo…
-Ainda quero ir ao parque.
-Ok, Ok. - Ela riu.
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