O sonho começou com esse homem estranho em minha cabeça. Estávamos dançando ao som de Chopin; ballet, claro. Então outra bailarina estava no palco e seu rosto era coberto por um véu cinza, tendo sua roupa da mesma cor. Ela o puxava e ele dançava com essa nova pessoa até se fundirem. Calma, a loucura não acaba aí. Eles viravam um touro e ele começava a me perseguir pelo palco. Eu senti algo em minha cintura e virei para ver; então, novamente, ele estava lá. Com um olhar triste, como se me pedisse perdão, ele me abraçou e eu retornei o abraço. Dançamos até meu despertador tocar e eu ter que acordar desse sonho tão estranho.
…
Eu queria poder entendê-lo. Toda essa raiva e frustração dentro dele se originaram quando ele era criança; seus pais morreram salvando a cidade que tanto amavam de uma pessoa cruel e maligna. Ao contrário dos pais do garoto, a pessoa continuou aterrorizando a cidade depois daquele fatídico dia. Coube ao menino detê-lo; porém, ele não fez isso por seu lar ou pelas pessoas que lá estavam, mas por vingança. Desde este dia, no qual ele matou o homem que causou a morte de seus pais e a família inteira dele, o menino se isolou por raiva da sociedade; que, agora, o julgava por ter cometido tal crime. O rapaz se isolou do mundo e decidiu que não mais viveria para ajudar os humanos, mas para se vingar deles.
Com o tempo, sua raiva só aumentou. Ele achava que não merecia envelhecer e morrer como os humanos; pois, como seus antepassados, ele poderia mudar sua forma para qualquer criatura viva e tornar-se até mais jovem - porém, isso não lhe permitia escapar do fim de sua jornada entre os vivos. Sua raiva era tanta que o rapaz somente convivia com animais silvestres, chegando a ter vários em sua casa; entre os quais eu me infiltrei.
Por anos eu o vi matar pessoas que se perdiam na floresta e acabavam por encontrar sua morada. Observei tudo calado e atento, procurando uma maneira de ajudar essa alma atormentada; afinal, sou seu parente e minha família me deu essa tarefa. Contudo, não sei o que fazer.
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