Eu estava em casa nesta manhã, assistindo A Bela Adormecida; quando a campainha tocou.
-Eu atendo! - Gritou mamãe.
-Querida é pra você. Aquela moça daquele grupo lá.
-Estou ocupada assistindo A Bela Adormecida. Não posso atender agora. Não volte.
-Isso é jeito de falar com alguém?! Vem já aqui! - Ela bufou quando passei por ela e foi embora.
Percebi algumas rosas, uma caixa de chocolates e um envelope em suas mãos.
-Isso é pra mim? - Disse sorrindo. Ela acenou que sim e me entregou tudo de uma vez.
-E...Eu…
-Olha, se eu quisesse ficar com raiva teria procurado esse grupo novamente. Então, por favor, nunca mais venha aqui, você não tem esse direito. - Nesse momento a moça um pouco mais velha que eu ficou sem fala e eu entrei em casa, fechando a porta atrás de mim.
Mas não sei fazer isso com as pessoas, ainda mais agora. Voltei lá fora e puxei seu braço.
-Você foi uma péssima líder. Mas eu te perdoo.
-Ah, eu…
-Tá tudo bem. Até mais.
Mentira, eu não estava nada bem; mas saí dali com um sorriso no rosto. Fingindo que estava tudo legal.
-Ei, tem também mais um tanto de dinheiro que queremos te passar para ajudar no seu tratamento. - Ela gritou bem no meio da rua. Isso me deu tanta raiva que eu entrei, escrevi o número da minha conta em um papel qualquer e entreguei a ela.
-Que bom que vocês pensaram nisso.
-Vou passar para sua conta logo que chegar em casa.
-Ok.
…
-Mana, tá afim de sair hoje?
-Tô, mas onde conseguiste dinheiro? Não tem teu tratamento pra pagar?
-Sim. Uns amigos meus decidiram se unir para me mandar uma certa quantia. Mandei metade para a conta da mamãe e fiquei com metade.
-Ah sim. Pensei que esses tratamentos fossem mais caros.
-São. E eu deveria estar fazendo mais coisas. Mas sabemos que essa doença já se espalhou demais para acabar agora.
-Não fala assim…
-É a verdade. Eu já não me importo tanto… - Hoje eu estou cheia de mentiras, um velho costume que tinha para não magoar as pessoas. - Que horas posso ir te pegar?
-Tem certeza que queres sair?
-Tenho. Passo aí depois da chuva, ok?
-Ok.
A chuva demorou bem mais do que eu achei que iria. Então, com a rua ainda molhada, saí com meu carrinho. Liguei para Jade logo antes de entrar na rua dela só pra ver se ela já estava pronta.
-Bora, mana! A gente vai é perder o filme.
-Tô indo, calma. Só falta o sapato.
Ela entrou no carro e partimos para o shopping mais próximo.
-Então, vamos mesmo ver aquele filme da bela adormecida com pessoas de verdade?
-Ah, vamos…
Ficamos meia hora na sala e não aguentamos mais.
-Esse filme tá um porre.
-Vamos ver outro?
-Vamos.
Saímos da sala naquele momento e fomos comprar outros ingressos. Escolhemos um filme nacional sobre umas gordinhas poderosas. Como faltava meia hora, fomos comprar algo para comer dentro do cinema. Na fila, começamos a escolher o que iríamos pedir.
-Ei, eu te conheço! - Alguém atrás de mim disse enquanto me cutucava.
-Oi. De onde? - Dei um sorriso para disfarçar o incômodo das cutucadas.
-Estudávamos na mesma escola.
-Mesmo? Desculpa, não me lembro…
-Sim...eu sou amigo do Lucas.
-Ah, sim. Ele falava com tanta gente…
-Poise, ele nos apresentou…
-Ah, desculpa… minha memória é horrível…
-Mana, o que tu vais querer?
-O número 6 e um milkshake. Pede tudo pra viagem.
-Vocês já estão indo embora? Eu queria companhia para um filme.
-Me passa seu celular. Hoje não dá; mas, talvez, outro dia dê.
Trocamos telefones e fomos cada um para o seu lado.
-Mana, o que foi aquilo?!
-Querida, a morte me cai bem.
Entramos logo na sala do cinema e o filme foi muito engraçado. Voltando para casa, paramos em uma loja nova de rosquinhas e pegamos uma caixa cheia pra cada; também levei uma para minha mãe e um bolo para comermos com meu irmão. Passamos o resto da viagem cantando Katy Perry com as janelas abertas.
-Ei, temos que fazer um churrasco.
-Quando?
-Mês que vem, agora estou sem money.
-Tá ok. Vamos nos programar com as meninas. Podes fazer um grupo no WhatsApp?
-Acabei de fazer.
-Como você faz isso?
-Poderes mágicos.
-Tá né…
Nos despedimos na frente da casa dela e eu segui com o carro.
Ao chegar em casa minha mãe estava na sala, assistindo Os Vingadores. Sentei ao lado dela e lhe mostrei a caixa cheia de rosquinhas.
-Oh, minha filha. Obrigada.
-O filme tá bom?
-É o tipo de filme que eu gosto. E o seu filme?
-Tava um porre. trocamos de filme, esse foi bem melhor. Por isso que demorei.
-Você deixou sua farmacinha aqui. Tenha mais cuidado com isso. - Ela me deu um beijo na testa.
-Terei. Pode deixar.
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