Aos 10 anos de idade, perdi meu pai. Minha família estava confusa e eu, totalmente perdida. Não sabia o que fazer e me apoiava nas pessoas. Foi aí que eles surgiram…
- O fantasma da menina que eu decapitei
Aconteceu em uma tarde de setembro (ou outubro). Estávamos indo para uma reunião de trabalho da escola. Éramos muito amigas; próximas até demais. Sempre me disseram que não era uma boa ideia, mas eu me fazia de boba. Quase conseguimos uma confusão no ônibus de ida. Chegamos fazendo barulho e as pessoas da equipe brigaram conosco.
Fizemos um círculo e colocamos todos os materiais no meio, iniciando o trabalho. Estava passando um dos meus clipes favoritos e eu comecei a cantar normalmente enquanto arrumávamos as coisas.
-Cala a boca! Sua voz me dá dor de cabeça! - Ela gritou pra mim na frente de todas as outras meninas.
Eu gritei o resto da música só de raiva. Ela me olhou com raiva e eu me calei. Ai de mim se eu continuasse cantando; perder minha “melhor amiga”, a “única que me suportava com essa voz que dá dor de cabeça”.
Naquela noite, eu tentei cantar no banheiro, como sempre fazia; porém, por mais que eu tentasse, a voz não saía. Era ela que estava ali, rindo de mim; do outro lado do banheiro. Sabe aqueles pensamentos ruins que não somem? Aquilo estava ali, me olhando; tão real e palpável. O medo de cantar em público foi tão forte que se materializou na forma de uma criança mimada e inconsequente; sempre berrando se eu conseguia algo e me forçando a fazer coisas que eu não queria. Ao ver a figura, não fiquei assustada; sabia do que se tratava. Era minha amiga e eu fiquei calada.
Tempos depois, ela foi diagnosticada com enxaqueca crônica e eu cansei dos abusos dessa amizade, me distanciando aos poucos até interromper o contato. Mas aquele fantasma continuava estava lá.
Desde aquela tarde, eu canto tão baixo que nem dá pra escutar.
Não tive mais coragem de tentar entrar em grupos ou ter aulas de canto. Aquela coisa pálida sempre estava lá. Ela cresceu comigo e ficava cada vez mais forte. Também ganhou alguns amigos; eles até se juntavam para me dar surras de vez em quando.
Então, houve audição para o coral da escola. Eu fiquei o tempo todo do lado de fora do auditório; ela gritava comigo e aquela voz metálica e fantasmagórica me paralisava.
-O que você faz aqui?! Acha que vai entrar lá e cantar algo bom?! NUNCA!
-Eu sei…
-Bom que saiba mesmo. Sua voz só faria eles terem dores de ouvidos e cabeça.
Ela sempre fazia isso. E gargalhava.
No dia seguinte, consegui que o líder do coral tirasse cinco minutos para me ouvir. Em uma sala afastada, pois as audições tinham encerrado. Ela gritava de novo e eu estava a ponto de ter um treco. Mas, fechei os olhos e comecei a ditar a música que decorei naquele semestre; continuei até que ela tivesse ritmo. Quando acabou, ele disse que eu já estava dentro e que tinha uma voz linda.
Nem preciso dizer que as aulas foram um fracasso. O fantasma gritava comigo toda noite e quando eu entrava na sala. Sempre pratiquei os exercícios para melhorar a voz, mas não faziam diferença alguma.
Certo dia, o professor nos colocou em fila e cada um seria acompanhado pelo violão. Eu cantei tão mais baixo devagar que nenhuma das notas alcançadas com o instrumento conseguiam acompanhar minha voz. Era aquela coisa pálida me sufocando, sentia suas mãos envoltas no meu pescoço. Nunca mais voltei lá.
Certa noite, não me lembro quando, eu estava conversando com esse fantasma. Perguntando o porquê dela ainda estar ali, visto tudo o que aconteceu. Argumentei de todas as formas possíveis. Ela só ficava cada vez mais com raiva e agressiva, me ameaçando. Então, eu disse que faria qualquer coisa para me livrar dela. A criatura veio para cima de mim, com aquelas unhas enormes prontas para me ferir de novo; mas peguei uma pasta para acertá-la. Passou certinho no pescoço dela e fez sua cabeça rolar pelo chão.
-Você acha que vai se livrar de mim fácil assim?! - O corpo se abaixou e ficou segurando a outra parte, era uma cena macabra.
-Não…- Eu disse, já sem esperanças. Respirei fundo, deixando uma lágrima rolar.
-Isso mesmo. Ficarei aqui para sempre!
-E eu sempre tentarei te apagar, sua coisa repugnante!
Nesse momento, saí do quarto. Pude ver ela perder um pouco da cor pela fresta, antes de fechar completamente a porta.
Me senti vitoriosa e forte na hora. Contudo, mal me virei e já recebi um belo soco de outra criatura branca; eles ouviram tudo e esperavam do lado de fora para me pegar. Defenderiam uns aos outros até a morte. Acho que aquela foi uma das maiores surras que já levei
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