sábado, 28 de outubro de 2017

Natasha - Cap 15

Você tá precisando de um bronze, pequena.”
Érica ria de Natasha. Elas estavam ao sol e a menina fazia diversas caretas. Também tentou tapar os olhos com as mão; porém, a luz a acertava em cheio.
-Você precisa disso. Não fique chateada. - A moça repetia, mas a criança continuava irritada. Repensando tudo o que aconteceu até ali, Érica percebeu que era uma loucura...

sábado, 21 de outubro de 2017

Natasha - Cap 14

-Érica, essa menina não tem mais roupas… - A moça repetia para si mesma após colocar todas as blusas que tinha em Natasha - eram suas roupas provisórias. Só se passou uma semana e a pequena cresceu o suficiente para que as blusas menores não dessem mais.
-O que você acha de sairmos para fazer umas comprinhas? - Ela disse, já colocando o bebê sobre o tapete. Separou as peças que não usava mais e as colocou em uma bolsa antiga; então, pesquisaram se havia algum bazar ou brechó pelas redondezas. Acharam um e verificaram se estava aberto.
Ao chegarem, Érica percebeu que havia muito mais coisas para crianças do que se podia imaginar. Trocou quase todas as roupas por um desconto de 70% em suas compras e escolheu vários peças para a pequena. Então, seu celular tocou. Era a recepcionista do pediatra querendo confirmar a consulta daquele dia. A consulta que ela esqueceu completamente.
Rapidamente, a moça desmarcou o cinema com a mãe e foi para casa. Colocou todas as roupas compradas em um balde com sabão e foi tomar banho com Natasha. Enquanto se arrumava, a pequena sujou a fralda. Érica remexeu o saco no fundo do armário e percebeu que não havia mais nenhuma. Procurou desesperadamente dentro das bolsas até encontrar uma última. Sabendo que teria que comprar mais antes de ir ao médico, saiu apressada e sem almoçar. Passou em um Drive Tru e pediu um combo. “Isso já tá virando rotina. Por isso estou deste tamanho.”
Estacionou perto de uma farmácia e pegou um pacote de lencinhos umedecidos e fraldas. Voltou para o carro e encontrou um guarda observando Natasha pela janela.
-Você é a dona do veículo?
-Sim.
-Cuidado ao deixar bebês assim. Pode acontecer alguma coisa com eles.
-Eu só fui…
-Não quero saber. Não deixe mais. Mas tá liberada, por hora.
“Cara Imbecil. Quer ficar enchendo o saco de quem tá apressado…” Érica interrompeu a murmuração ao abrir o porta malas e se deparar com as compras que fizera na noite anterior - comida e coisas para bebê (inclusive fraldas). Quis se bater por aquilo. Como podia ser tão esquecida?! Não importava. Já estava atrasada. Pegou todas as coisas e as jogou no banco de trás.
-Boa tarde. A paciente se chama Natasha.
-Boa tarde. Sinto lhe informar que sua vez já passou.
-Moça, por favor. Eu não posso perder mais um dia de trabalho.
-Eu vou falar com o doutor. Te aviso se ele for lhe atender.
-Obrigada.
Érica sentou em um banco - desconfortável, por sinal. Repensou essa desorganização e percebeu que precisava melhorar.
-Natasha. - A recepcionista chamou e elas entraram. A pequena parecia bem, mas precisava de alguns exames para confirmar; então, foi passada uma bateria e elas deveriam retornar em um mês. Voltando, Érica passou novamente em um Drive Tru; pois sabia que não teria tempo de preparar o jantar. Pediu pra ela e sua mãe.   
Chegando em casa, Érica foi guardar as compras e encontrou um bilhete da mãe na geladeira. “Não Venho almoçar, nem jantar. Esquente a comida no microondas.”. Contudo, ela decidiu comer o combo comprado anteriormente. Pensou que poderia terminar as coisas do trabalho logo; porém, percebeu o balde com as roupas de Natasha. Estavam todas manchadas. Uma das peças soltava tinta e não podia ser lavada junto com as outras.Da mesma forma, ela as tirou do sabão e colocou no amaciante com água; acabou o jantar e as estendeu.
A pequena começou a chorar descontroladamente, mas Érica já sabia que se tratava de cólicas. Deu o remédio que estava na receita e esperou o efeito. Enquanto isso, pegou um caderno e o organizou por semana; fazendo dele uma agenda. “Talvez as coisas mudem…”

sábado, 7 de outubro de 2017

O fantasma da menina que eu decapitei

Aos 10 anos de idade, perdi meu pai. Minha família estava confusa e eu, totalmente perdida. Não sabia o que fazer e me apoiava nas pessoas. Foi aí que eles surgiram…

  • O fantasma da menina que eu decapitei

Aconteceu em uma tarde de setembro (ou outubro). Estávamos indo para uma reunião de trabalho da escola. Éramos muito amigas; próximas até demais. Sempre me disseram que não era uma boa ideia, mas eu me fazia de boba. Quase conseguimos uma confusão no ônibus de ida. Chegamos fazendo barulho e as pessoas da equipe brigaram conosco.
Fizemos um círculo e colocamos todos os materiais no meio, iniciando o trabalho. Estava passando um dos meus clipes favoritos e eu comecei a cantar normalmente enquanto arrumávamos as coisas.
-Cala a boca! Sua voz me dá dor de cabeça! - Ela gritou pra mim na frente de todas as outras meninas.
Eu gritei o resto da música só de raiva. Ela me olhou com raiva e eu me calei. Ai de mim se eu continuasse cantando; perder minha “melhor amiga”, a “única que me suportava com essa voz que dá dor de cabeça”.
Naquela noite, eu tentei cantar no banheiro, como sempre fazia; porém, por mais que eu tentasse, a voz não saía. Era ela que estava ali, rindo de mim; do outro lado do banheiro. Sabe aqueles pensamentos ruins que não somem? Aquilo estava ali, me olhando; tão real e palpável. O medo de cantar em público foi tão forte que se materializou na forma de uma criança mimada e inconsequente; sempre berrando se eu conseguia algo e me forçando a fazer coisas que eu não queria. Ao ver a figura, não fiquei assustada; sabia do que se tratava. Era minha amiga e eu fiquei calada.
Tempos depois, ela foi diagnosticada com enxaqueca crônica e eu cansei dos abusos dessa amizade, me distanciando aos poucos até interromper o contato. Mas aquele fantasma continuava estava lá.

Desde aquela tarde, eu canto tão baixo que nem dá pra escutar.

Não tive mais coragem de tentar entrar em grupos ou ter aulas de canto. Aquela coisa pálida sempre estava lá. Ela cresceu comigo e ficava cada vez mais forte. Também ganhou alguns amigos; eles até se juntavam para me dar surras de vez em quando.
Então, houve audição para o coral da escola. Eu fiquei o tempo todo do lado de fora do auditório; ela gritava comigo e aquela voz metálica e fantasmagórica me paralisava.
-O que você faz aqui?! Acha que vai entrar lá e cantar algo bom?! NUNCA!
-Eu sei…
-Bom que saiba mesmo. Sua voz só faria eles terem dores de ouvidos e cabeça.
Ela sempre fazia isso. E gargalhava.
No dia seguinte, consegui que o líder do coral tirasse cinco minutos para me ouvir. Em uma sala afastada, pois as audições tinham encerrado. Ela gritava de novo e eu estava a ponto de ter um treco. Mas, fechei os olhos e comecei a ditar a música que decorei naquele semestre; continuei até que ela tivesse ritmo. Quando acabou, ele disse que eu já estava dentro e que tinha uma voz linda.
Nem preciso dizer que as aulas foram um fracasso. O fantasma gritava comigo toda noite e quando eu entrava na sala. Sempre pratiquei os exercícios para melhorar a voz, mas não faziam diferença alguma.
Certo dia, o professor nos colocou em fila e cada um seria acompanhado pelo violão. Eu cantei tão mais baixo devagar que nenhuma das notas alcançadas com o instrumento conseguiam acompanhar minha voz. Era aquela coisa pálida me sufocando, sentia suas mãos envoltas no meu pescoço. Nunca mais voltei lá.

Certa noite, não me lembro quando, eu estava conversando com esse fantasma. Perguntando o porquê dela ainda estar ali, visto tudo o que aconteceu. Argumentei de todas as formas possíveis. Ela só ficava cada vez mais com raiva e agressiva, me ameaçando. Então, eu disse que faria qualquer coisa para me livrar dela. A criatura veio para cima de mim, com aquelas unhas enormes prontas para me ferir de novo; mas peguei uma pasta para acertá-la. Passou certinho no pescoço dela e fez  sua cabeça rolar pelo chão.
-Você acha que vai se livrar de mim fácil assim?! - O corpo se abaixou e ficou segurando a outra parte, era uma cena macabra.
-Não…- Eu disse, já sem esperanças. Respirei fundo, deixando uma lágrima rolar.
-Isso mesmo. Ficarei aqui para sempre!
-E eu sempre tentarei te apagar, sua coisa repugnante!
Nesse momento, saí do quarto. Pude ver ela perder um pouco da cor pela fresta, antes de fechar completamente a porta.

Me senti vitoriosa e forte na hora. Contudo, mal me virei e já recebi um belo soco de outra criatura branca; eles ouviram tudo e esperavam do lado de fora para me pegar. Defenderiam uns aos outros até a morte. Acho que aquela foi uma das maiores surras que já levei

A casa - redigido em 15/06/2018

Ela acordou ao ouvir as tábuas sendo tiradas de sua porta e os passos apressados. Depois de tanto tempo presenciando os mais diversos tipos ...