O frio daquela manhã incomum era notável. “Estamos em Belém do Pará! Como podemos ter uma temperatura tão baixa?!”. Natasha acordou e começou a chorar, como fez durante a noite toda a cada meia hora.
-Pequena, você não pode estar com fome! Eu acabei de te dar papinha! - Érica já sentia o cansaço bater e os olhos pesarem. “Eu quero um banho quente…”
Ela carregou a bebê até a cozinha. Botou alguns sachês de chá de camomila e água em uma panela; deixou esquentando e foi pegar toalhas, uma bacia e alguns baldes. Natasha não parou de chorar e isso começava a irritar a moça. Érica tentou dar papinha e alguns brinquedos, mas nada funcionava. Pesquisou motivos de choros e percebeu que faltava algo importante todas as vezes que deu papinha: colocar Natasha para arrotar. Na hora, colocou o bebê na vertical e a pôs para arrotar; o que aconteceu diversas vezes até que ela gofou um pouco e se acalmou.
-Você podia ter dito logo, viu?! - A pequena a olhou de forma cansada e pesarosa. -Desculpe… - A moça a abraçou, como um pedido de desculpas.
A água começou a borbulhar na panela. Érica segurou um dos baldes pela alça e o trouxe até a cozinha, colocou a água quente aos poucos e com muito cuidado (para não queimar Natasha) e o levou de volta ao banheiro; encheu outro balde com água fria e as misturou. Colocou um pouco da água na bacia e mediu a temperatura na sua pele, estava boa; deixou o bebê nesta e a pôs sobre o vaso sanitário. A pequena já estava bem mais esperta e ficou brincando na água enquanto tomava banho. Ao terminar, sua guardiã botou a bacia no chão e se dirigiu ao box para tomar banho; sempre de olho na criança, Érica conseguiu tomar um rápido banho; logo enrolou o bebê em uma toalha pequena e vestiu um roupão para sair do banheiro. Jogou a água da bacia fora e guardou-a junto dos baldes; coisas simples de fazer ficavam bem mais complicadas com um bebê brincalhão no colo.
Ao chegar no quarto, Natasha estava quase dormindo e, depois de seca e vestida, caiu no sono. A moça se enxugou e pôs um vestido. Foi quando se lembrou da bagunça que deixara na cozinha; correu para arrumar tudo e voltou para o quarto.
O berço improvisado da bebê era uma antiga caixa organizadora coberta com diversos tipos de panos que a deixavam bastante confortável.
Enquanto Natasha dormia, Érica participou de uma rápida reunião via Skype com investidores norte americanos e outra com um cliente do guamá. Parecia que a noite mal dormida, fez a criança ficar cansada a ponto de apagar por mais de uma hora. Então ela voltou a chorar e berrar como se não houvesse amanhã.
-Meu Deus! O que tá acontecendo?! - Ela pegou a bebê no colo. -O que você tem?
Natasha ficou vermelha de tanto chorar, como na noite passada. A moça lembrou dos motivos pelos quais os bebês choram e se perguntou se poderia ser algum tipo de cólica. Pegou algum dinheiro, colocou um soutien - nada era fácil com a pequena gritando. Checou o celular pra ver se não tinha nenhuma mensagem e saiu com a criança para a farmácia.
No balcão pediu o medicamento que tinham recomendado no site e voltou para casa.
Percebeu que estava trancada do lado de fora. “Não, isso não pode estar acontecendo!”.
Tocou a campainha diversas vezes até a mãe atendê-la.
-Oi…- Disse com uma cara um tanto cínica.
-Olha, não tenho nada pra te dar… - A mãe brincou.
-Muito engraçado… - Érica continuava na porta.
-Entra, bobinha. O que você foi fazer lá fora?
-Natasha está com cólica e eu fui comprar um remédio.
-Funchicória? Eu tenho…
-Tá brincando?! Meu Deus… - A moça se jogou no sofá, sentindo o cansaço pela correria.
-Mas tá vencido. - A mãe riu do estado da filha, lembrando do passado.
-Ok. Hora da massagem.
-Deixe que eu faço isso. Só olhe. Você já comeu alguma coisa hoje?
-Não que eu me lembre.
-Então prepare algo e volte aqui. Não vai querer cair de fome no meio da rua.
-Então foi por isso que a senhora caiu daquela vez? Nossa…
-Foi. Como você lembra disso? Era tão novinha…
-Foi depois que papai morreu…
-Sim. Fiquei meio perdida; afinal, dividimos sua criação...sem meu companheiro foi difícil. Mas eu sobrevivi e você também vai.
Érica preparou uma salada de frutas e tapioca; foi para a sala ver o que estava acontecendo. Sua mãe estava massageando a barriga de Natasha com todo o carinho e paciência do mundo; como um milagre, parecia que realmente estava funcionando.
-Nem vamos precisar da funchicória. - Ela riu. - Você é um bebê esperto, você é sim.
-Obrigada por me ajudar.
-Não há de quê.
Érica pegou Natasha no colo e saiu andando.
-Você sabe que eu não concordo com o que você está fazendo…
-Mãe…
-Mas vou sempre estar aqui para te ajudar. Conte comigo.
-Obrigada. -Érica estava surpresa com a atitude de sua mãe. Subiu novamente para seu quarto para terminar seu trabalho e colocar Natasha para dormir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário