sábado, 4 de março de 2017

Natasha - Cap 6

-Mana, eu já tava esperando por isso. Essa greve já era pra ter rolado a algum tempo. - Érica suspirou de raiva. -Mas tudo bem. Te encontro no shopping. - Então a campainha tocou. “Não estou esperando ninguém...deve ser um  vizinho chato querendo algo da mamãe”.
-Olha, a minha mãe não está…
Ao abrir a porta, ela se deparou com aquela caixa com plástico bolha e um bebê dentro. Sua primeira ação foi olhar ao redor pra ver se a pessoa que deixou a criança ali ainda estava por perto, mas o movimento da rua era intenso naquela hora e já não permitia isso. Então, Érica pegou a caixa e a levou pra dentro.
No instante em que a colocou sobre a mesa da cozinha, o bebê fez questão de acordar e sorrir. “Ah, tá. Isso parece muito com Tarzan.”
-Mas eu não vou cair nos seus encantos. - Ela disse apontando para aquele pequeno nariz, quando uma mãozinha o segurou firmemente. -Você é forte mocinha. Mas não vai querer enfrentar o mundo só com uma fralda, certo? Vamos ver umas roupas para você...
“Meu Deus, estou falando com um bebê”. Ela cerrou os olhos.
-Mas aposto que você me entende. - E a criança sorriu novamente. -Você é uma fofa. Vem, acho que tenho a roupa certa para esta ocasião, madame.
Érica a pegou nos braços, percebendo que havia duas fraldas extras na caixa. “A pessoa te deixa na porta de um desconhecido, mas se importa com você. Ótimo…”
Ela colocou um lençol no chão e o bebê sobre ele, de modo que não fosse possível da criança se machucar. Abriu o guarda roupas e tirou algumas peças e paninhos que fossem bem macios para ver se davam naquela coisinha fofa que não parava de se mexer e brincar.
-O que você acha de um nome? - A criança parou subitamente e olhou pra Érica. Seu celular tocou; era Sophia, já impaciente pela espera. “Mana, mal sabes o que aconteceu comigo.” Quando desligou, ela pôde ver a última música que escutou naquele dia - Natasha.
-Natasha? - E o bebê olhou atentamente, como se aquele já fosse seu nome em vidas passadas. -Tá né…
A moça vestiu o bebê, Natasha, com uma blusa (vestido, agora) e começou a arrumar uma bolsa com as fraldas, uns lenços umedecidos, um lençol pequeno, outro vestidinho, uma pomada hidratante que tinha jogada por lá, talco, sua carteira e celular. Então ela enrolou o bebê em um pano e correu pra rua, chamando um táxi.
-Moço, Shopping Boulevard. Rápido, por favor. - Nessa hora, o bebê começou a chorar. -O que foi? Eu não entendo linguagem de bebê.
-Talvez ela esteja com fome…
-Verdade! Nem tinha pensado nisso…
-Quer que eu pare perto em uma farmácia?
-Você seria muito gentil fazendo isso.
-Então vamos lá.
O taxista aguardou enquanto Érica comprava papinhas prontas, mamadeiras e algumas colheres. Também pegou um pacote de fraldas, lenços próprios para bebês e leite. Já tinha estourado metade do seu salário só com isso. “Caramba, é por isso que as mães fazem baby chá…”
-Obrigada por esperar.
-Não há de quê. Sempre ajudo as mães de primeira viagem. Minha mãe me teve quando era bem mais nova que você.
-Ah, não...não sou mãe dela. Deixaram esse bebê em minha porta.
-Nossa. - Nesse momento eles quase sofrem um acidente. -Desculpa.
-Tudo bem. Já estamos quase chegando, certo?
-Sim senhora.
Durante o trajeto, a moça deu a papinha ao bebê, que comeu feliz da vida.
-Tá vendo?!
Ao chegarem no shopping, o taxista disse a ela que não era preciso pagar a viagem, que seria uma cortesia. Érica agradeceu e desceu cheia de sacolas e Natasha nos braços. Mesmo com tudo isso, ela deu um jeito de pegar o celular e ligar para Sophia.
-Mana, não dá tempo de explicar. Só me encontra no coisinha de carrinhos de bebê.
-Eita. Tô indo.
Érica perguntou a um dos guardas onde poderia alugar um carrinho de bebê e,ao ouvir a resposta, saiu correndo até o local. Ao chegar lá, Sophia já esperava com uma cara raivosa; mas, quando viu a amiga com várias sacolas e o bebê nos braços, correu e pegou um carrinho para colocarem as coisas.
-Mana, o que você vai fazer agora?
-Procurar um advogado.
-Entendo…
-Minha filha, o que é isso? - Érica ficou gelada ao ouvir a voz de sua mãe logo atrás de si.
-M...mãe, deixaram essa criança na porta da nossa casa.
-E o que são todas essas coisas?
-Eu não podia deixar ela com fome e suja.
-Mas não teria que levar ela para algum tribunal?
-Na verdade...eu quero adotá-la…
-Minha filha… - D. Amélia engoliu aquilo em seco. -Vou ligar pra uma amiga minha.
- Mana, tu tens certeza?
-Sim. Não pretendo deixar essa criança correr o risco de ser deixada novamente.
Dali a poucos minutos D. Amélia vinha com uma expressão mais pacífica do que quando saiu.
-Filha, vamos ao advogado. Acabe seu almoço.
-Tá tudo bem, mãe?
-Sim, vai ficar tudo bem.

-Então você supõe que façamos algo ilegal? - Érica não entendia mais nada.
-Sim. É moralmente aceitável. Nenhum juiz lhe dará a guarda dessa criança no estado de vocês agora. - A advogada movia o olhar de Érica para a mãe. - Vocês precisam de tempo para se organizar e pôr tudo em ordem, principalmente com a papelada. Iremos alegar que estávamos procurando pela família biológica e que tivemos atrasos. Depois de 6 meses, iremos entrar com o processo de adoção.
-Muito obrigada, Salete.
-Eu que agradeço por terem me procurado. Agora se concentrem em ter esse aval para a adoção. - A advogada deu um forte abraço em D. Amélia e em Érica. -Boa sorte, pequena. - Ela disse, olhando para Natasha.

-Que notícia boa! - Sophia gritava do outro lado da linha.
-Sim, eu sei. Agora tenho que trabalhar muito para deixar tudo em ordem e as coi…
-Quando vai ser o chá de bebê?
-Que? Eu não vou ter tempo de preparar isso agora…
-Deixe que eu organizo! Nossa, eu sempre quis organizar esse tipo de festa! Só me passe a lista de convidados que eu dou um jeito no resto.
-E...eu não tenho dinheiro…
-Não se preocupe com nada. Agora descanse, seu dia foi agitado.
-Ok, boa noite. Obrigada pela ajuda. - Desligaram logo em seguida. Enquanto Érica se preocupava como iria ter mais tempo e dinheiro para cuidar de Natasha; essa se enrolava em sua cama com os lençóis. Passou a noite acordada, assistindo vídeos de como fazer as coisa da bebê um jeito mais rápido, barato e prático; conseguiu ter algumas ideias de presentes que poderia pedir no baby chá.
Do outro lado da cidade, Sophia bolava a festa. Pensava nos mínimos detalhes para que tudo fosse muito bom.
As duas terminaram tão tarde que já estava amanhecendo.

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