-Tivemos sorte nessa loucura toda…- Disse olhando para o filtro de água construído poucos dias antes.
De fato, aqueles dias eram ruins. Seres grotescos dominaram as ruas, deixando destruição por onde passavam; destruíram várias casas e arrancaram famílias inteiras destas. As primeiras notícias tinham sido postadas em sites; porém, logo a internet e outros meios de comunicação não funcionavam mais- assim como serviços básicos de saúde e segurança. Em um mundo que era cada um por si, eu e minha família estávamos bem abrigados.
Na noite em que as feras atacaram, ouvimos os gritos de nossos vizinhos e, ao constatar o que era e que não poderíamos mais salvá-los, nos escondemos em um compartimento da casa que era invisível aos olhos de invasores. Permanecemos por horas dentro daquele espaço apertado, mas sobrevivemos juntos. Acho que parte da nossa sorte se deve ao fato de que vivemos em lugar mais afastado da cidade, onde há espaço entre uma casa e outra e os monstros chegaram bem tarde para nos pegar.
-Sorte? Quando você bateu a cabeça? Só pode estar doi…- Meu irmão começou a soltar as besteiras de sempre; mas, dessa vez eu não liguei, só continuei olhando para o filtro e o que eu, como engenheira ambiental e sanitária poderia fazer para melhorar.
-Ágata, você está me escutando?- A voz mais atônita de meu irmão despertou meus instintos de sobrevivência.
-O que foi?
-Eu estou reclamando e você não me escuta! Só temos um ao outro pra desabafar agora.
-Deixa de ser pateta, garoto. Você não vê que eu tenho coisas demais na cabeça pra ouvir suas baboseiras?! Eu estou planejando como melhorar esse filtro e dar mais qualidade de vida pra toda a família e você vem me reclamar que não tivemos sorte?! Me poupe!
Depois disso saí pisando forte e o deixei lá, sem palavras para responder.
“Esse garoto… Enfim, preciso melhorar essa coisa ou, em pouco tempo ficaremos sem água para beber…”
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