-Você está me perseguindo?! - Disse bem sem jeito.
-Você que está. - Ele retrucou.
-Não, não estou. - Coloquei minha mala na prateleira de cima e me sentei. -O que você está fazendo aqui?
-O mesmo que você.
-Ah! então realmente está me seguindo!
-Não disse isso. - Ele riu. - Estou fazendo a mesma coisa que você aqui no ônibus, viajando.
-Hum, você não me engana, espião. - Rimos juntos. -Estou visitando alguns países antes de morrer daqui a alguns anos.
-Quem disse que você vai morrer cedo?
-Todos os médicos nos quais eu fui.
-Você devia ter mais fé.
-Em que? Na natureza? Na vida? Em Deus? - Dei uma risada irônica. -Além do mais, eu não tenho uma boa relação com Deus. Sabe, somos só conhecidos.
-Entendo. Mas você podia tentar conversar com Ele.
-Eu conversei. Disse coisas bem ruins quando descobri que iria morrer.
-Isso não é uma conversa, é um monólogo. - Ele riu.- Em uma conversa, as duas pessoas falam.
-Não acho que Deus queira falar comigo.
-Está errada. Você é filha dEle. A coisa que Ele mais quer é fazer as pazes.
-Fazer as pazes…
-Estamos quase na minha parada. Até mais. - Ele disse, saindo da cabine rapidamente.
-Ei! Espera…! - Puxei minha mala da prateleira com a força que ainda tinha e saí meio que mancando atrás dele.
Quando desci do trem, mas Danilo já estava longe demais para me ouvir. Mesmo naquela estação agitada, eu conseguia me arrastar e segui-lo. O alcancei cerca de 10 minutos depois, quando ele finalmente parou para tomar café.
-Você está me perseguindo?! - Ele me imitou.
-Não, não estou. - Respirei fundo e sentei no banco mais próximo. - É que o que você me falou foi muito estranho.
-Você quer passar um tempo aqui?
O olhei com aquela cara de “mano, não tô te dando mole!”.
-Pra entender melhor o que está acontecendo entre você e Deus.
-Pode ser…
-Fechado,então! - Ele estendeu a mão.
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