Ela acordou ao ouvir as tábuas sendo tiradas de sua porta e os passos apressados. Depois de tanto tempo presenciando os mais diversos tipos de atrocidades, era difícil distinguir o que estava acontecendo em seu interior.
Velas, vinho, uma toalha esticada no chão. Nada parecido com os assassinatos anteriores; porém, ela não estava nenhum pouco interessada em saber o que vinha depois e se ajeitou para dormir novamente. Se ao menos ela podesse fazer algo para impedir...
Então uma gargalhada cortou o ar e fez tremer seus alicerces. Nada comparado ao que tinha ouvido antes. Uma gargalhada sem maldade. Seguida de um beijo - se bem que ela nem sabia o que era aquilo. Só percebia que aqueles dois se davam bem e isso lhe parecia muito confuso. Aquela velha casa só tinha visto dor e morte com o passar dos séculos.
Ficou acordada a noite toda para apreciar a visita e entender melhor o que estava acontecendo. Era tão bom o clima naquela noite fresca, o melhor que já havia presenciado.
Uma pena que eles foram embora na manhã seguinte. E a casa? Bem, ela voltou a dormir.
Um tempo depois - não sei precisar quanto, ela ouviu o mesmo som das tábuas sendo tiradas. Várias pessoas começaram a passear pelo seu interior, fazer anotações e tudo mais. Mas foram logo embora.
No dia seguinte, foi acordada a marteladas. Novas pessoas perfuravam seu interior, derrubando suas paredes e quebrando suas vigas - o que lhe causava uma dor tremenda. E assim foi por longos meses.
Então, em um dia chuvoso, se viu nos espelhos que aquelas pessoas deixaram. Estava diferente. Sem mofo, sem poeira. Com nova pintura, novas janelas e nova decoração. Gostava do jeito antigo, mas sentia que a novidade era bem melhor.
Quando passou a chuva, um carro parou em sua porta. Uma menininha saiu correndo, subiu as escadas daquela velha casa e ficou pulando no seu batente.
Sentia que aquela criança também era parte dela e que já a conhecia, mas não sabia o porquê.
Então, viu sair do carro mais duas pessoas. Não os reconheceu de cara; mas, pelo jeito que se olhavam, pôde lembrar daquela situação maravilhosa. Era o casal que a fez ficar a noite toda acordada para ver o sol raiar junto com eles.
O blog de uma pessoa que tenta se entender e entender a singularidade dos outros. Com uma postagem por semana tento passar aos meus leitores o que se passa em meus devaneios.
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A casa - redigido em 15/06/2018
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Você já tentou isso? Ver as coisas de uma outra forma? A falta de planejamento nos leva a pensar de forma automática a maior parte do tempo...