terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

10 coisas para se fazer antes de partir - Sapatilhas

Comecei a ir a peças em teatros regionais; coisa que eu gosto muito, apesar de não fazer ultimamente. As minhas favoritas eram as que tinham músicas tocadas em pianos e violinos.
Certa noite eu estava com meu irmão no Teatro da Paz e minha melhor amiga estava dançando. Ela estava linda e perfeita, como sempre; deslizava pelo palco como se as asas que usava fossem reais e a levassem de um lado a outro. Nada poderia ser mais belo. Depois disso eu me lembro de ter acordado em uma maca com meu irmão chorando e muita gente preocupada ao redor - eu tinha desmaiado logo que Laura acabou de dançar e começou o intervalo entre uma peça e outra.
-Eu estou bem. - Disse-lhe e ele me abraçou. Ficamos para a outra peça, mas ele não desgrudou de mim nem para comprar lanche - sempre íamos juntos.
No final da noite, Laura me convidou para assistir suas aulas de ballet e eu aceitei.
Nos dias em que ela tinha aula, eu ia para a casa dela logo pela manhã e ficava lá até a hora de ir para o teatro. Entrava na sala e ficava sentada em um canto com minha farmacinha de emergência, meus livros e cadernos -  se bem que eu não conseguia ler ou escrever nada enquanto estava acontecendo o ensaio. Era lindo… Por isso tantos artistas falam sobre ballet. É arte, é vida, é a beleza escrita nas pontas dos pés.
Saindo das aulas de ballet, eu me sentia leve. Sabia que aquilo não era pra mim, eu nunca conseguiria dançar daquele jeito; mas eu podia sentir a música percorrendo meu corpo. Eu tinha várias ideias para histórias mirabolantes durante as aulas, mas só anotava as ideias para não perder.
Tomava o mesmo caminho para casa todos os dias: andava direto até a parada mais próxima, pegava um ônibus e o soltava bem perto de casa, Laura sempre me acompanhava até a partida do ônibus.
Em uma tarde ensolarada, fiquei amiga de um garoto bonito que estava no ônibus; ele tinha olhos verdes, uma voz macia e era engraçado. Durante uma hora de viagem dentro do ônibus, descobri que seu nome era Danilo e tinha uma doença degenerativa em um de seus olhos, além da miopia que só aumentava. Lhe contei sobre o estado avançado do câncer e meu gosto eclético para tudo. Trocamos os números de telefone e marcamos de nos encontrar na outra semana para assistir um filme; mas eu não dei muita bola, pois era difícil alguém gostar de mim, ainda mais no meu estado.

Os dias se passaram e eu começava a me sentir estranhamente melhor e mais ativa.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

O décimo filho - Cap 3 - O início do plantio

Durante minha infância e minha adolescência, estive muito conectado com minha igreja e as pessoas que se congregavam nela. Eu sempre participei do culto de crianças e juniores aos domingos, enquanto minhas mãe e irmã estavam no culto da família. Certo dia me procuraram para saber se eu queria participar da organização deste culto e eu disse que sim.
-Você é batizado? - Me perguntaram.
-Não. Ainda não tenho idade pra isso. - Respondi envergonhado.
-Quantos anos você tem?
- 15.
-As pessoas começam a ser batizadas com 12 anos, pois nesta idade já se tem mais clareza do que é pecado e que você pode ser perdoado e lavado pelo sangue de Jesus.
Fui pra casa com isso na cabeça. Não entendi o que me falaram.
Cheguei em casa e fui jogar no computador, minha atividade favorita. Perdi todas as partidas. Nossa, que raiva que eu fiquei, queria quebrar tudo! Fechei a tela e fui para o Youtube ver como eu poderia melhorar meu personagem. O primeiro vídeo da página falava de batismo e aquilo acendeu uma luz na minha cabeça. Instintivamente, cliquei no link e ouvi uma pregação explicando o porquê que as pessoas precisavam ser batizadas.
Minha mãe passou por onde eu estava e me viu naquela situação - que na época eu achava constrangedora.
-Meu filho. - Ela pousou a mão calmamente em meu ombro. - Você quer se batizar?
-Não sei. Parece ser algo muito sério e eu sou novo pra isso…
-Podemos conversar com alguém que entenda bastante sobre isso, se você quiser.
-É...acho melhor…
-Com quem você quer conversar?
-Pode ser com o líder da nossa célula.
-Tudo bem. Vou marcar uma reunião com ele aqui em casa amanhã para falar disso de uma forma não tão formal. O que você acha?

-Acho que seria ótimo. Obrigado, mãe.
Então eu a abracei e voltei a jogar. Mas minha mente estava mais na reunião de amanhã e em minhas dúvidas do que naquele jogo.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

1001 noites de pesadelo - Dormir bem

Estávamos bem longe de nosso destino, mas a maldade nos seguia onde por quer que fôssemos. No último mês, nossa vida parecia um episódio de “Desventuras em série”.
Certa noite, uma louca nos perseguiu dentro do hotel no qual estávamos. Era uma senhora que não falava a alguns anos e parecia sentir as coisas que aconteciam no hotel. Não fui com a cara dela desde o começo, mas estava tão tranquila quanto a isso que baixei a guarda e foi nesse momento que ela veio atrás de nós com uma faca e só parou quando estávamos fora do hotel. Nossos gritos acordaram todos que estavam hospedados e causou uma grande confusão. “Saiam daqui! E levam eles embora! Levem essas sombras embora daqui!” a idosa gritava de raiva e medo na calçada.
-Desculpem minha mãe. Ela não sabe o que faz. - O dono do hotel tentava não parecer assustado.
-Tudo bem, não se preocupe. só queremos nossas coisas que ainda estão no quarto. - Eles organizaram tudo e nos trouxeram.
-Aqui, pegue. - O senhor nos devolveu o dinheiro que pagamos pelo quarto e mais uns 300 reais. - É o mínimo que podemos fazer depois desse vexame.
-Muito obrigada, Sr. Antônio. Tenha uma boa noite.
-Vocês também… - E entramos no carro para ir a outro hotel.
-Romeu…
-Sim, as sombras estavam nos perseguindo.
-Então ela tinha razão em nos querer fora de lá…
-Contando que acabamos com o esconderijo dela…
-Esconderijo?
-Sim. Aquela mulher não estava louca, só escondida. Ela vendeu muita coisa para a escuridão, a mesma que nos persegue; que , agora, a achou. Não vai demorar muito para ouvirmos falar dela novamente.
-Entendo.
-Na verdade, você não faz ideia.
Respirei fundo e ajustei o rádio para tocar em uma estação conhecida por todo o território enquanto passávamos pela frente de outra hospedagem.
-Podemos ficar nesse hotel? - Romeu me olhou com uma carinha de cachorro pidão.
-Você tem certeza? Se no primeiro fizemos aquela bagunça, o que me garante que não vai acontecer o mesmo aqui?
-Eu estou com um bom pressentimento e, mesmo assim, as trevas estão bastante ocupadas com quem nos expulsou de lá e fez com que eles perdessem sua presa.




Demos entrada no hotel e subimos para dormir; mas acabamos pedindo uma pizza. Estávamos acabamos física, mental e emocionalmente.
-O que vai acontecer com aquela senhora? - Perguntei o que estava em minha mente desde que saímos daquele hotel.
-Aquela senhora não era uma boa pessoa e machucou muita gente inocente durante sua jornada nessa forma. Ela nem mesmo é humana; mas um ser das trevas que fugiu para não ser castigado pelos seus erros e se apossou do corpo de alguém. Sei que isso tem te deixado triste, mas não se deixe enganar pela aparência. Além disso, a pessoa que vivia naquele corpo era prisioneira desse ser; então ela será livre para partir dessa pra melhor.
-Hum… - Eu nunca fui religiosa e não entendi muito bem o que ele queria me passar.
-Senti uma boa energia neste lugar. Amanhã teremos que falar com uma pessoa daqui de dentro que poderá nos ajudar. - O garoto me olhou de cima a baixo - Você parece bem cansada.
-Eu estou. Nós dois estamos. Precisamos dormir…
-Vamos. Vai ficar tudo bem.
Depois de um longo tempo sendo movida a café e redbull, essa noite me parecia o paraíso.
-Espere, você vai dormir também?
-Sim. Vamos ficar bem. Boa noite e muito obrigado pelo que você tem feito por mim.
-Tudo bem. Boa noite.
Esperei Romeu deitar e dormir, foi bem rápido. Tomei um banho simples e também me deitei. Tive um pesadelo bem bobo; ao menos não foi nada com o menino que estava bem ao meu lado.  

sábado, 11 de fevereiro de 2017

10 coisas para fazer antes de partir - Eu estava morta e não sabia


Essa história será confusa e você pode acabar se perdendo.
Tudo começou há alguns anos quando vi minha melhor amiga ficando com o cara que eu gostava. Fui para casa e chorei por horas até minha mãe me levar ao médico e descobrirmos que eu estava com apendicite; naquele dia percebi que minha mente interferia no meu corpo e vice versa.
Outro episódio ocorreu quando uma pessoa conseguiu virar vários de meus amigos contra mim. Eu ainda sofro com isso… Nesta época eu consegui uma gastrite leve. Hoje a gastrite é média e eu tenho amigos bem melhores dos que eu tinha.
A última que aconteceu foi em um grupo de empreendedores que eu participava. Estávamos nos organizando para fazer uma ação sem a autorização do meu líder direto; mas todos sabiam desta, pois falamos sobre isso nas reuniões gerais e não recebemos mais represálias . Na última reunião, a presidente do time falou do grupo como se estivéssemos fazendo algo por baixo dos panos, que não tinha concordado e estava muito magoada. Ela realmente precisava expor a todos do grupo desta forma, criminalizando a ação toda desta forma? Nesse mesmo mês saí do time e estava muito feliz com isso. Então eu descobri que tinha câncer…

Fiquei em choque e sem chão no primeiro momento. Parecia que nada fazia sentido. Todo o trabalho e energia gastos para nada. Então comecei a pensar em minha vida e percebi que estava perdendo minha saúde aos poucos e esse era o último aviso - como a cobrança de uma dívida da vida toda.
Mas não fiquei chateada. Minha família tinha vários casos deste problema e eu não tinha uma vida saudável; então, aquilo acontecer comigo era esperado. Me disseram que eu só teria alguns meses de vida. Enfim, decidi cuidar da minha vida como nunca tinha cuidado antes - sem mais desculpas e precauções . Deixei compromissos que não tinham relação com minha família, amigos e pessoas que me queriam bem. Passei a cuidar do meu corpo com carinho e me vestir bem.
Fiquei muda por horas procurando os pontos errados e achei tantos que nem pude contar; de relacionamentos abusivos a comidas que só fazem mal. Então, sentei na frente do computador e iniciei uma tabela com horários bem melhores dos que eu tinha agora, refeições saudáveis, encontros com amigos, tempo com meu cachorro, até horário para academia e exames. Também resolvi que iria sair da empresa em que estava - o tempo e energias gastos ali eram vitais agora, não poderia perder nem um segundo fazendo meu chefe babaca enriquecer. A demissão foi bem rápida e indolor, ele até fingiu que estava preocupado e me deu uma boa quantia em dinheiro para me manter durante os meses de vida que ainda me restavam. E decidi relatar minha história para vocês, fazendo dela um aviso.


A casa - redigido em 15/06/2018

Ela acordou ao ouvir as tábuas sendo tiradas de sua porta e os passos apressados. Depois de tanto tempo presenciando os mais diversos tipos ...